Folha de S.Paulo

Trama mostra o lado cômico de Graciliano Ramos

O Graciliano Ramos árido e sisudo não é o que se apresenta em "Alexandre e Outros Heróis". Segundo o diretor Luiz Fernando Carvalho, o que se vê nessa narrativa literária é uma verve "encantadora, leve, sutil, lírica e ao mesmo tempo cômica".

Nesta adaptação de Luís Alberto de Abreu, o que se coloca em evidência é o tom de teatro de feira da obra.

"Não que Graciliano Eamos seja isso, mas ele tem um jogo entre os ouvintes e o contador que, sem recurso nenhum, tem de fazer a coisa acontecer. E o Alexandre é isso, ele está em sua sala, contando histórias."

Na trama, Ney Latorraca é um contador de histórias sonhador e mentiroso que tem como plateia sua mulher Cesária (Luci Pereira), a afilhada Das Dores (Marcélia Cartaxo), o embolador Libório (Marcelo Serrado), o curandeiro Gaudêncio (Flávio Rocha) e o cego Firmino (Flávio Bauraqui) -- antagonista de Alexandre, que questiona e debocha de suas narrativas.

Abreu conta que, na adaptação, criou outras histórias para os personagens --exceto para Alexandre-- para que eles pudessem interagir.

A Folha assistiu a um clipe do especial. Como a história é conduzida por Alexandre, que mente, nunca se sabe se a coisa é real ou não. Há também cenas de humor.

A princípio, a atração só teria o conto "O Olho Torto de Alexandre", no qual o protagonista conta que ficou com o olho desse jeito após cavalgar uma onça, mas "A Doença de Alexandre", que é parte do livro de Graciliano, entrou a pedido de Carvalho.

O diretor não sabia da internação de Latorraca quando o chamou para o papel, mas resolveu incluir o conto em que Alexandre é dado como morto e volta à vida quando notou que Latorraca ainda estava abatido pela experiência que tinha vivido. "Quando ele leu, foi uma alegria absurda". diz Carvalho.