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Entrevista - Ney Matogrosso

Eu já passei dos 70 e não estou nem aí, para mim está tudo igual

O CANTOR LANÇA O ÁLBUM 'ATENTO AOS SINAIS', COM COMPOSIÇÕES DE NOVOS MÚSICOS, E FALA QUE A IDADE NÃO MUDOU SUA PERFORMANCE NOS PALCOS

MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO

No ano em que completou quatro décadas de uma carreira transgressora, imprevisível e bem-sucedida, iniciada com o sucesso do Secos & Molhados, Ney Matogrosso, 72, não quis olhar para trás.

Rechaçou qualquer homenagem a seu ex-grupo e lançou-se à estrada com um repertório dominado por compositores novos, no show "Atento aos Sinais", que virou CD gravado em estúdio.

Em conversa com a Folha em sua cobertura, no Leblon (zona sul do Rio), Ney falou sobre o álbum recém-lançado, os 40 anos de carreira e a relação quase sexual que ainda mantém com a plateia.

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Folha - Como definiu o repertório de "Atento aos Sinais"?
Ney Matogrosso - Eu achava que o foco deveria estar nos novos. As letras são o que me fazem definir o repertório. Este começou a ser montado em 2009 e comecei a mostrar em fevereiro deste ano. Elas abordam essa temática urbana, de violência, de desrespeito. Sempre gosto de fazer alguma referência ao nosso país, que está precisando de muita coisa, né? "Não Consigo" [da banda Tono] é a única que considero romântica.

Ainda faz sentido lançar CD, ainda mais no formato físico?
Eu gosto de CD, de capa, de abrir. Penso da seguinte maneira: se realmente tem muito pouca gente que compra, quem compra é porque gosta, então eu faço algo caprichado para eles. Eu gostava mais de LP, claro, porque você tinha possibilidades muito maiores. A indústria como a gente conhecia não existe mais, então o que me interessa é uma boa distribuição.

A comemoração dos 40 anos do Secos & Molhados te afetou de alguma forma?
Não, foi como fazer 60 anos. Antes de chegar a eles, tive um tremor, achando que era uma idade a partir da qual eu não ia mais poder usar minhas roupas como eu gostava, minhas calças justas. Aí fiz 60 e não mudou nada, continuo me vestindo igual, sendo a pessoa que sou. Aí já passei dos 70 e não estou nem aí, para mim está tudo igual.

E em termos físicos?
Haverá um impedimento físico, obviamente. Na voz ainda não tenho, nem no corpo, mas terei em algum momento, convivo com essa possibilidade. Não vou começar a fazer menos por estar com medo. Não estou com medo, quando tiver um impedimento, as pessoas saberão e pronto. Mas, enquanto não houver... Eu acreditei no primeiro maluco que me disse que com 40 anos eu não manteria a mesma voz. Já estou nos 70 e continuo cantando. Mantenho meu tônus vocal cantando e o muscular fazendo ginástica.

E a memória?
Continua ótima. Não senti diferença. Vi no documentário ["Olho Nu", de Joel Pizzini, sobre Ney] uma forma de dançar da época do Secos & Molhados que hoje em dia seria impossível, não sei como mexia o quadril daquele jeito. Ali não estava nem pensando, não era algo que eu determinasse, eu entrava e fazia daquela maneira.

Era intuitivo?
Como é ainda. Eu tenho alguns pontos marcados, mas o que eu vou fazer entre um ponto e outro depende muito mais do público do que de mim. Se é um público que me acende, eu fico doido, pulo, só não dou cambalhota.

Como o público te acende?
Quando é extremamente receptivo e aberto, isso me deixa louco. Quando começou essa história, eu tinha realmente desejo pela plateia. Olhava aquela gente e tinha tesão, para mim aquela multidão era um ser, que eu desejava. Hoje em dia é uma brincadeira em cima disso.

Você perdeu o desejo?
Não perdi não, filho [risos].

Como era essa sexualidade na época do Secos & Molhados?
Eu tinha 32 anos, se não trepasse, não dormia. Aquilo tudo era verdade. Não se permitia expor a sexualidade, mas como ia segurar isso? A censura começou a pegar no meu pé, a classificação do show foi subindo. Quando chegou a 18 anos, eu segurava meu pau com a mão, olhando sério para o povo, sem um sorriso. Eu não estava de gracinha, estava desafiando eles. Era isso, uma guerrilha urbana.


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