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Crítica drama

'Além da Fronteira' é Romeu e Julieta gay que discute a política no Oriente Médio

DO CRÍTICO DA FOLHA

O começo não anima: em "Além da Fronteira", um jovem palestino que entra em Tel Aviv clandestinamente e, num bar frequentado por homossexuais, conhece um advogado israelense. Como se pode temer: amor instantâneo entre famílias inimigas. Mais um Romeu e Julieta no Oriente Médio, versão gay.

O inconveniente desse tipo de filme é criar uma situação artificial (amor entre pessoas de grupos diferentes) para notar o quanto é fútil a proibição a esse tipo de relação. Leia-se: palestinos ou israelenses todos são seres humanos e têm condições de se entender e se amar etc. etc.

Essa abordagem de boa vontade normalmente não ajuda em nada a compreender a situação bélica existente naquela região e ainda costuma atrapalhar quem tenta compreendê-la.

Aos poucos, no entanto, o filme de Michael Mayer consegue neutralizar essa armadilha. Nimr, o palestino, obtém um visto de permanência para estudar em Israel.

É a partir daí que o filme buscará mostrar como funciona o mecanismo de desconfiança nos dois grupos.

Do lado de Nimr existe uma família que não sabe de sua homossexualidade. O problema é grave (segundo o filme, não existe a menor compreensão na Palestina para orientações sexuais fora da estrita norma), mas não o pior: estudar em Israel e ter relações com um israelense põe Nimr, quase automaticamente, na situação de traidor.

E não em sentido figurado: traidor mesmo. Alguém passível de entregar ao inimigo (em troca do visto de permanência) segredos dos militantes palestinos (e seu irmão mais velho faz parte de um grupo armado).

As coisas não são tão mais simples do lado de Tel Aviv, já que o filme de Mayer detém-se no modo de agir do serviço secreto de Israel. Não muito diferente dos demais serviços do gênero, talvez mais franco e brutal.

A ação dessas duas polícias e a distorção subjetiva que impõem ao mundo --a esse mundo, em todo caso-- determinam o restante do filme. Produz sentido na medida em que a partir daí emerge, no filme, o que existe de irredutível no conflito. Ao mesmo tempo mostra os limites do filme: a importância exclusiva da esfera policial (com tudo o que tem de irracionalidade) de certa forma neutraliza a natureza política do conflito.

No entanto, ela está ali mesmo, em cena: para a polícia israelense (e quem está por trás dela), assim como para grupos armados palestinos, o arranjo bélico é o o que lhes garante um certo poder junto aos cidadãos de seus respectivos povos.

Essa sutil omissão da esfera política termina por levar o filme a uma espécie de suspeita neutralidade. Nenhuma das atitudes policiais tem razão, entendemos bem. Mas no caso de nosso Romeu e Julieta o que importa saber é o que, afinal, determina a inominável situação que os rapazes enfrentarão. (IA)

ALÉM DA FRONTEIRA
DIREÇÃO Michael Mayer
PRODUÇÃO Israel/EUA/Palestina, 2012
ONDE Espaço Itaú - Augusta
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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