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Crítica romance
Mexicano volta a retratar seu país de forma terna e crítica
Chances de ascensão do protagonista são frustradas por desigualdade social
O tom entre nonsense e tragicômico é delicioso, principalmente nos diálogos
O mexicano Juan Pablo Villalobos fez uma estreia sensacional em 2010 com "Festa no Covil" publicado no Brasil e em 15 línguas. O romance focava a vida de um chefe do narcotráfico, narrada por seu filho, mostrando a realidade violenta do México.
Agora o autor volta a retratar seu país, de maneira ao mesmo tempo terna e crítica, com "Se Vivêssemos em um Lugar Normal", seu segundo romance, que promete ser parte de uma trilogia.
Orestes, o protagonista, é um adolescente em uma família de sete filhos, vivendo numa "caixa de sapato" no alto de um morro, oprimido pelo aperto da casa e pelas aspirações limitadas do pai.
As possibilidades de fuga, ascensão ou simples mudança são frequentemente frustradas pela condicional do título. "Mamãe é possível deixar de ser pobre?", pergunta o protagonista. "Não somos pobres, Oreo, somos classe média." Ao que ele conclui: "Essa coisa de classe média parecia algo que só podia existir em um país normal, em um país onde não estivessem permanentemente tratando de foder a sua vida."
Os paralelos com o Brasil são inevitáveis, porém o humor típico mexicano e as referências culturais distantes (apresentadas em notas e num glossário) travam um pouco a fluidez em português. O texto soa como traduzido (como de fato foi), ainda que o autor more há alguns anos no Brasil.
Orestes foge de casa, recorre a estratagemas para sobreviver e testemunha a desgraça familiar. O tom entre nonsense e tragicômico é delicioso, principalmente nos diálogos, mas ao chegar ao desfecho o livro descamba para um absurdo apressado e insatisfatório, que não se justifica nem pela proposição do título.
SE VIVÊSSEMOS EM UM LUGAR NORMAL
AUTOR Juan Pablo Villalobos
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Andreia Moroni
QUANTO R$ 36,50 (160 págs.)
AVALIAÇÃO regular