Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica serial

LUCIANA COELHO - coelho.l@uol.com.br

'Mom' erra no tom, mas acerta no elenco

Comédia do produtor de 'Big Bang Theory' com a atriz Allison Janney tem cara de anos 1990

FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS abastecem há décadas os roteiristas americanos. O que "Mom", que acaba de ter mais uma leva de dez episódios encomendada para completar sua primeira temporada, tem de diferente é a aposta no matriarcado.

A "disfuncionalidade" em questão está no fato de as três gerações da família que a série retrata serem de mães adolescentes solteiras ­--e dependentes de álcool em recuperação, no caso da avó (Allison Janney, 54, a C.J. de "The West Wing") e da mãe (Anna Faris, 37, de "Todo Mundo em Pânico 4").

Não parece material para comédia, e espectadores americanos já reclamam em fóruns na internet que as piadas em torno do abuso de álcool e drogas e de gravidez precoce beiram o mau gosto.

Há aí certo exagero, até porque nos EUA a série é exibida pela rede aberta CBS, o que impede ousadias maiores. Mas trata-se de uma produção de Chuck Lorre, o mesmo sujeito que trouxe ao mundo "Two and a Half Men". Não há, portanto, sutileza a esperar.

Lorre tem um estilo que podia ter ficado nos anos 1990, auditório e claque de risadas incluídos.

Além de ser culpado pela ressurreição midiática de Charlie Sheen, assina as esquemáticas "Big Bang Theory" (que tem seus momentos, mas deixou a criatividade de lado faz tempo) e "Mike and Molly". Se morasse no Brasil, provavelmente produziria "Zorra Total".

Já a direção de elenco marcou um golaço ao escalar Allison Janney, uma atriz mais vista em teatro e dramas, para interpretar uma avó despirocada e sexy. Sozinha, ela deve garantir a longevidade do programa, cuja audiência até agora se mostrou apenas razoável.

Sua Bonnie é o que os americanos chamam de "espírito livre", uma mulher de passado dúbio, em dívida com a filha, que não aceita julgamentos, mas mesmo assim quer fazer com que tudo fique bem no final. Imagine a Samantha de "Sex and the City" com netos e menos sofisticação.

Janney, aliás, merece ovação dupla nesta temporada televisiva. Não só deu alguma profundidade aos roteiros unidimensionais de Lorre como roubou a cena no melhor novo drama do ano, "Masters of Sex" (HBO), no qual vive a esposa frustrada de um reitor universitário.

Faris não faz feio como a garçonete Christy, centro da trama, e valem muito as participações especiais (Octavia Spencer, de "Histórias Cruzadas", como a trambiqueira de alto nível Regina está ótima).

Mas são as nuances que Janney enxerta em Bonnie que deixam o espectador --de outra forma restrito a piadas sobre sexo, álcool e negligência familiar-- penetrar no conturbado e às vezes triste, e às vezes cáustico, e às vezes encantador mundo das relações entre mães e filhas.

Esta coluna estará em licença-maternidade até o início de março. Que os leitores tenham um 2014 com roteiro caprichado.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página