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Crítica - Comédia
Recursos de cinema valorizam comédia sobre sexualidade
Com aura de ingenuidade, 'O Espetáculo do Vibrador' lembra comédias hollywoodianas da década de 1920
"No Quarto ao Lado "" O Espetáculo do Vibrador" é antes de tudo uma historinha simpática sobre a utilização médica do gozo como suposto apaziguador da histeria feminina no final do século 19.
Sem maiores pretensões do que expor aventuras passionais e experiências inusitadas, a comédia escrita pela americana Sarah Ruhl funciona por sua simplicidade.
O casal Daldry (Julia Ianina e Luciano Gatti) procura o doutor Givings (Daniel Alvim) para curar os distúrbios de humor da esposa. O médico utiliza o artefato eletromecânico para estimular as zonas erógenas de suas pacientes.
A montagem dirigida por Yara de Novaes serve-se de recursos cinematográficos na sua composição. Na transição de cenas, toca uma musiquinha como marcação de corte. Quando personagens dirigem-se à frente do palco, os outros continuam a ação com mímicas, ao fundo.
A movimentação dos atores remete a uma gestualidade típica das comédias hollywoodianas dos anos 1920, assim como o andamento da trama, com pequenas sátiras do cotidiano e gags executadas num registro mais marcado por uma aura de ingenuidade do que de lascívia.
O cenário de André Cortez acentua a atmosfera de inocência. O consultório, no centro do palco, parece uma casa de bonecas, com paredes em verde-piscina e mobília da época. O figurino sóbrio de vestidos em tons pastel e terninhos em cores neutras orna bem com a cenografia.
Mas os números musicais não casam com a estética da montagem, assim como as onomatopeias utilizadas pelos atores ao bater na porta ou representar o choro do bebê.
Ao criar cenas dinâmicas em vez de um manifesto antropológico sobre a emancipação feminina, a diretora concretiza o discurso implícito no texto, proporcionando risos e também reflexão.