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Salas de cinema menores temem prejuízo

Modelo usado no fomento à digitalização beneficia cinemas de shopping, mais rentáveis, afirmam exibidores

Repasse não vai cobrir custos, dizem representantes do circuito 'de arte', o que fecharia mais salas

MATHEUS MAGENTA EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Os cinemas brasileiros correm contra o tempo para digitalizar seus projetores antes do fim de novas cópias em película, previsto pelos grandes estúdios para 2014.

Enquanto isso, o mercado teme dois possíveis efeitos colaterais: o fechamento de 300 das 2.500 salas do país e o sufocamento da circulação de filmes independentes.

Para quem coloca essas produções em cartaz, o modelo adotado no Brasil para a troca de equipamentos, negociado nos últimos anos entre distribuidoras e exibidores com o apoio da Ancine (Agência Nacional do Cinema), prejudica pequenas salas e o circuito "de arte".

O motivo, segundo exibidores, é que o novo modelo segue uma lógica própria de multiplexes e blockbusters, que não se aplica a filmes independentes.

COMO FUNCIONA

Hoje, um distribuidor gasta, em média, R$ 3.500 com a cópia de um filme. No modelo proposto, parte desse valor gasto com a película (cerca de R$ 1.500) será pago aos donos de cinemas que estão fazendo a transição.

O repasse dos distribuidores aos donos de cinema, adotado também em outros países para ajudar a bancar os custos da digitalização, é chamado de VPF ("virtual print fee", taxa de cópia virtual).

Enquanto para exibir a cópia física o distribuidor paga os R$ 3.500 num primeiro momento e depois transfere o filme para outras salas com custos bem mais baixos, a digital custa R$ 1.500 para cada cinema que a exibe.

Para Bruno Sá, supervisor de projeção da EBCine, que administra o circuito Estação, no Rio, salas que dão pouco retorno financeiro aos distribuidores serão prejudicadas.

Eles, afirma Sá, podem optar por levar seus filmes a salas com pouca rentabilidade apenas semanas após lançá-los em salas mais rentáveis. A manobra aproveitaria a redução do VPF --a taxa cai gradativamente nas semanas que se seguem à estreia.

Assim, essas salas receberiam menos dinheiro do VPF, minguado à custa das semanas de atraso, e o valor dificilmente cobriria os custos da mudança de equipamentos.

Distribuidores menores também reclamam. "Pagar semanalmente um VPF durante meses fica muito mais caro do que quando uma cópia de 35 mm era levada de cidade a cidade", diz Silvia Cruz, da distribuidora Vitrine Filmes ("Frances Ha" e "O Som ao Redor").

E completa: "Salas que exibem só esse tipo de filme [independentes e de autor] podem não resistir às mudanças, pois a distribuidora terá de pensar duas vezes antes de programar. Se são salas com menos potencial de público, a conta não vai fechar".

CIDADES PEQUENAS

André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e da distribuidora Pandora Filmes, voltada para o cinema de autor e independente, afirma que esse cenário levará ao fechamento de salas, em especial as de pequenas cidades.

Em 1975, 80% das quase 3.300 salas estavam no interior do país. Hoje, metade das 2.500 salas se encontram fora das capitais. Também há concentração de público. Segundo o FilmeB, portal que analisa o mercado de cinema do país, hoje 80% da bilheteria vêm de apenas 33% das salas de cinema do país.

Mas há quem discorde das previsões negativas.

Luiz Gonzaga de Luca, especialista em mercado cinematográfico, e Jorge Peregrino, presidente do sindicato de exibidores do Rio, dizem que o fechamento de salas de rua e sua substituição por salas de shoppings é natural e anterior à digitalização.

Nos EUA e no Canadá, com a digitalização em estágio mais avançado que no Brasil, estima-se que o processo vá provocar o fechamento de ao menos 10% das 43 mil salas. Algumas recorrem ao crowdfunding (vaquinha on-line) para pagar o projetor digital.

Para De Luca, o circuito independente, tanto salas quanto distribuidores, terá de buscar um modelo alternativo ao atual para garantir a diminuição de custos da digitalização.

Luiz Fernando Morau, diretor comercial da Quanta DGT, empresa que intermedeia o repasse do VPF, afirma que uma linha de financiamento da Ancine, a juro zero, protegerá pequenos exibidores "mesmo que a arrecadação de VPF seja pequena ou quase inexistente".

Já Peregrino diz que o público só tem a ganhar com a digitalização. Para ele, a qualidade da projeção tende a melhorar e os distribuidores não poderão usar mais "cópias em mau estado, ferradas" para tentar extrair o máximo de receita de uma mesma película.


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