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Crítica - Drama

Cineasta japonês questiona o que é ser pai em narrativa pautada por sutilezas

PEDRO BUTCHER COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando os pais de Keita, 6 anos, o matriculam na escola, um teste sanguíneo obrigatório indica que o menino não pode ser filho biológico do casal que o cria.

Um exame de DNA confirma a suspeita e uma rápida investigação ratifica a hipótese mais provável: houve uma troca de bebês na maternidade. E agora, o que fazer?

A partir de um ponto de partida muito explorado, Hirozaku Kore-eda realiza uma crônica familiar pautada pela sutileza e pela excelência da construção narrativa.

Lá onde tantos filmes escorregam em clichês, o diretor traça um caminho que evita armadilhas. Mas o longa, felizmente, também escapa da frieza excessiva de tantos diretores que, com medo do sentimentalismo, se refugiam na segurança da razão.

O principal acerto da direção de Kore-eda está na escolha de um ponto de vista definido --algo que anda em falta nos filmes ultimamente.

A trama de "Pais e Filhos" se desenrola a partir do impacto que a notícia bombástica dos bebês trocados tem sobre todos os envolvidos, mas se foca, sobretudo, na onda de choques que abala o arquiteto Ryota Nonomiya (um trabalho brilhante de Masaharu Fukuyama).

Ryota trabalha longas horas e se orgulha de ser bom provedor. Mora em um belo apartamento de zona nobre de Tóquio. É terno, mas não consegue evitar certa frieza em suas relações familiares.

Ele se dá conta disso ao conhecer Yudai Saiki, homem que cria o seu filho biológico.

Saiki é dono de um pequeno comércio em um bairro afastado de Tóquio e, para horror de Ryota, tem como lema "não faça hoje aquilo que você pode fazer amanhã".

Pela orientação dos médicos e dos advogados, os casais são aconselhados a destrocar os bebês. Durante a adaptação, os meninos passam os fins de semana nas casas dos seus pais biológicos, antes de trocarem de lar definitivamente.

A reação imediata de Ryota não é nem um pouco nobre: ele cogita entrar com um processo para ficar com os dois meninos.

ESTILO DE VIDA E AFEIÇÃO

Quando o personagem percebe que o caminho é legalmente inviável, a crise bate forte, e ele passa a se questionar sobre os significados da paternidade, os investimentos afetivos e sobre como isso tudo está relacionado ao estilo de vida que ele faz questão de sustentar.

Nesse ponto, como em outro filme de Kore-eda ("Ninguém Pode Saber", 2004), "Pais e Filhos" transcende os limites da crônica para se tornar uma aguda observação da sociedade japonesa.

Outro trunfo de "Pais e Filhos" está no trabalho de direção das crianças. Nas sequências em que elas têm um papel preponderante, a câmera fica à sua altura, e o movimento é conduzido por elas.

Esse detalhe, aliás, deve explicar o encanto de Steven Spielberg pelo filme, presidente do corpo de jurados do Festival de Cannes, onde "Pais e Filhos" recebeu, justamente, o Prêmio do Júri.

Pouco depois do fim do festival, o diretor de "E.T." anunciou que havia comprado os direitos de refilmagem.

Essa é a triste lógica de cinema: um belo filme em japonês está condenado a ter circulação bem mais restrita do que sua cópia em inglês.


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