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Livros

Argentino narra o amor a partir de histórias mínimas

Em 'Hotel Éden', Luis Gusmán junta lendas e política à paixão dos protagonistas

Cenário que dá nome ao livro ganhou fama por ligação com o nazismo e como prisão de luxo de japoneses no pós-guerra

RAQUEL COZER COLUNISTA DA FOLHA

Enquanto tantos escritores padecem de bloqueios criativos, ao argentino Luis Gusmán, 69, sobram histórias. Como resultado, costuma encaixar várias delas numa só.

Também psicanalista (atende de segunda a sexta, das 7h30 às 19h30, e, para desgosto dos que se digladiam com o papel em branco, ainda encontra o tempo da escrita), Gusmán exerce essa proficuidade desde 1973, quando movimentou a cena literária portenha com o experimental "O Vidrinho".

"Hotel Éden", romance de 1999 enfim traduzido no Brasil, é um exemplo bem acabado de seu talento para a reunião e a concisão.

O autor diz que se trata de uma história de amor, mas, ao acompanhá-la, o leitor esbarrará em memórias envolvendo nazistas, transformações do período peronista, ruínas físicas e emocionais.

O próprio estabelecimento que dá nome ao livro sugere as camadas narrativas que se sobreporão nas suas menos de 150 páginas.

Fundado em 1897 por um ex-oficial do Exército alemão na província de Córdoba, o hotel Éden teve entre seus visitantes, reais ou eternizados pela lenda popular, presidentes argentinos, o príncipe de Gales, o poeta Rubén Darío, Che Guevara e Adolf Hitler.

Fechou as portas em 1965, não sem antes ser usado como prisão de luxo, ao final da Segunda Guerra, para membros da diplomacia japonesa.

Esse é o cenário em que Gusmán baseia os vestígios do amor do escritor Ochoa e da cabeleireira Mônica --"Hotel Éden" é o nome do romance que o protagonista tenta iniciar há décadas, sempre topando em memórias com as quais não sabe lidar.

Não bastasse ser o local da lua de mel com o fracassado amor de juventude, o hotel traz a Ochoa lembranças de uma infância anterior à derrocada financeira da família, quando o pai, caminhoneiro, podia se dar ao luxo de pagar hospedagem para as férias no suntuoso ambiente.

"O mais difícil é sempre contar uma história de amor", diz Gusmán, de Buenos Aires, por telefone. "Tentei mesclar com contextos políticos da Argentina, que aparecem como elementos secundários. O livro vai do micro ao macro, de histórias mínimas que formam a grande história."

LOUCURA

O amor de Ochoa e Mônica esbarra na rejeição dele ao fato de ela ser uma simples "garota que estuda por correspondência", enquanto ele "não passa de um homem que não consegue viver sem ela", como define o tradutor Wilson Alves-Bezerra no prefácio da edição brasileira.

Essa ambiguidade faz Ochoa viver uma espécie de loucura, ao mesmo tempo em que, de seu ponto de vista, é Mônica quem sofre do mal.

"A literatura tem de ter valores éticos em jogo, amor, covardia. A mim, parece que a literatura mais moderna tem sido devorada por procedimentos literários, deixando as questões éticas de fora", argumenta o autor.

Fala, neste caso, também como crítico literário --de sua lavra, saiu em 2010 no Brasil "Os Outros" (Iluminuras), com 27 nomes de autores argentinos em geral pouco conhecidos aqui, como Sergio Bizzio e Ricardo Zelarayán.


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