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Crítica samba

Lançamento reforça talento de Fabiana Cozza

Cantora homenageia Clara Nunes revisitando seu repertório e demonstra intimidade com universo da intérprete

LUIZ FERNANDO VIANNA ESPECIAL PARA A FOLHA

A devoção das jovens cantoras de samba por Clara Nunes (1942-1983) é tamanha que já virou clichê. A paulistana Fabiana Cozza é das poucas que têm autoridade para encarar o repertório da mineira sem que isso soe postiço.

É o que faz em "Canto Sagrado - Uma Homenagem a Clara Nunes", CD e DVD ao vivo --gravado no Auditório Ibirapuera-- que ela lança em produção própria.

O extra do DVD é um registro simples, mas simpático, de conversas de Fabiana com dona Mariquita, irmã de Clara, em Caetanópolis (MG), terra natal da homenageada.

Sua autoridade vem de sua intimidade umbilical com elementos do universo de Clara. Primeiramente, claro, com o samba, pois ela está no meio desde criança, quando já frequentava a quadra da escola Camisa Verde e Branco.

Também com o candomblé, que a permite cantar e dançar com verdade canções como "A Deusa dos Orixás" e "Conto de Areia", ambas da dupla Romildo Bastos/Toninho Nascimento.

E, conhecedora que é das várias manifestações da cultura popular, sai-se muito bem em gêneros diversos como "Congada" (Romildo/Toninho), "Ijexá" (Edil Pacheco), jongo ("Candongueiro", de Wilson Moreira/Nei Lopes) e os sons nordestinos, resumidos em "Pau de Arara" (Guio de Moraes/Luiz Gonzaga) e "Feira de Mangaio" (Sivuca/Glorinha Gadelha).

Fabiana é da escola de Bethânia: canta descalça e usa seus dotes de atriz para representar o que canta. Isso propicia momentos comoventes, como em "Tristeza Pé no Chão" (Armando Fernandes) e "Minha Missão" (João Nogueira/Paulo César Pinheiro).

Mas também reveste tudo de tanta teatralidade que a opção por vezes pesa sobre o repertório, que poderia passar de forma mais suave.

O gestual em "Lama" (Mauro Duarte) e "Meu Sapato Já Furou" (Elton Medeiros/Mauro Duarte/Joacyr Joaquim de Santana) sublinham o que as letras já dizem.

Também não é satisfatório o efeito dramático de se cantar lentamente a letra inteira de "Portela na Avenida" (Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro) antes de deixar o samba entrar com sua força.

Já na pungência de "Novo Amor" (Chico Buarque), na alegria de "O Mar Serenou" (Candeia) e na intensidade de "Canto das Três Raças" (Duarte/Pinheiro), Fabiana amplia a beleza das canções.

Ao final do DVD, enquanto passam os créditos, ouve-se a cantora interpretando deslumbrantemente "Juízo Final", uma das obras-primas de Nelson Cavaquinho. É o coroamento de um projeto corajoso que, apesar de alguns excessos, faz jus a Clara e reforça a artista de primeiro time que é Fabiana Cozza.


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