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Crítica Romance

'Policarpo Quaresma' polonês chega ao Brasil

Publicado em 1932, 'A Extraordinária Carreira de Nicodemo Dyzma' surpreende leitor com atualidade de seu anti-herói

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

Também a Polônia --como provavelmente muitos outros países periféricos-- teve seu Policarpo Quaresma, seu Macunaíma, seu Quincas Borba.

Ele se chama Nicodemo Dyzma e sua jornada anti-heroica, não para baixo, como seus pares brasileiros, mas para cima, se encontra em "A Extraordinária Carreira de Nicodemo Dyzma", de Tadeusz Dolega-Mostowicz, publicado com enorme sucesso na Polônia, em 1932.

É de se perguntar por que razão, 80 anos depois, tenham resolvido publicar no Brasil um romance polonês, mesmo que bem-sucedido.

Marcelo Backes coordena a interessante coleção "Fanfarrões, Libertinas & Outros Heróis" para a Civilização Brasileira, e este é o primeiro livro de uma série que promete explorar esse personagem que, apesar de predominante no século 20 --o anti-herói--, existe no mundo pelo menos desde Dom Quixote.

Além do mais, o leitor vai se surpreender com a atualidade de suas peripécias rocambolescas e com as semelhanças que Nicodemo e a Polônia guardam com o Brasil.

Nicodemo, cuja "psique era totalmente desprovida de imaginação", é um pobretão, encrenqueiro e fanfarrão, grosseiro e ignorante, como ordena o estereótipo.

Por um incidente fortuito, que mais deveria recriminá-lo que o promover, vira administrador de uma propriedade --pertencente a um industrial que explora governo e povo-- e até presidente do Banco Nacional do Trigo.

Todos o respeitam e o temem e, é claro, a mulher solitária do latifundiário se apaixona loucamente por sua masculinidade e "pureza".

Quase da mesma maneira como Leonardo, em "Memórias de um Sargento de Milícias", é filho de "uma pisadela e de um beliscão", a carreira vertiginosa de Nicodemo é fruto de um esculacho instintivo dado por ele em um figurão polonês, numa festa cujo convite chegou às suas mãos por mero acaso e à qual ele acorreu para matar a fome.

SABE-TUDO

Como em Machado de Assis, o narrador de Dolega-Mostowicz é onisciente intruso, oferecendo pitacos de ironia e ridículo ao longo de toda a narrativa.

Isso convoca o leitor a uma participação inevitavelmente crítica, cuja conclusão não erra o alvo se pensar que o sucesso de Nicodemo se deve justamente a sua tolice, ingrediente essencial para a carreira política, num país governado pela corrupção.

Qualquer semelhança com o filme "Muito Além do Jardim" (1979), estrelado por Peter Sellers, não será mera coincidência. Jerzy Kosinski, suposto autor do livro "Being There", em que o filme se baseia, foi acusado de plágio e de possuir um "ghost-writer".

Não seria surpresa. Seria, na verdade, só uma comprovação da quantidade e do anonimato de Nicodemos que subsistem por toda parte.

A EXTRAORDINÁRIA CARREIRA DE NICODEMO DYZMA

AUTOR Tadeusz Dolega-Mostowicz
TRADUÇÃO Tomasz Barcinski
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 54 (464 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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