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Exposição no Rio revê produção experimental de Pernambuco

DO ENVIADO AO RIO

Longe dos grandes centros, Pernambuco foi para muitos artistas um "espaço de liberdade" e "construção de utopias", nas palavras do cineasta Hilton Lacerda, diretor de "Tatuagem".

Seu filme sobre uma trupe teatral às voltas com a censura no Recife dos anos 1970, agora em cartaz, coincide com a maior mostra já realizada no Museu de Arte do Rio --um apanhado da produção artística experimental que chacoalhou Pernambuco ao longo do século passado.

Da mesma forma que Paulo Bruscky traduziu a arte conceitual para os limites da realidade local, artistas como Cícero Dias, morto aos 95, em 2003, já faziam de sua obra uma arena em que forças regionalistas dissolviam e ao mesmo tempo reforçavam a abstração geométrica então em voga nas metrópoles.

"Era preciso ser moderno, mas se manter fiel à tradição", diz Clarissa Diniz, curadora da mostra no Rio. "Essa foi a força de criação que atravessou esses artistas."

Na ressaca da construção de Brasília e de reformas urbanísticas no Recife nos anos 1960, essa estética modernista era revista por artistas locais, como Montez Magno.

Um dos nomes centrais da mostra, Magno chegou a participar de quatro edições da Bienal de São Paulo. Depois, passou as últimas décadas recluso, mas vem sendo redescoberto agora pelo circuito.

Suas maquetes de caráter artesanal, que simulam espaços urbanos com o mesmo potencial para a paz quanto para o caos, questiona a ideia de urbanismo utópico de cidades como a capital federal.

"Visualizei arquiteturas desse tipo no futuro", diz Magno. "Nada foi calculado, são coisas da imaginação."

Ou também "utopias de materiais ordinários" que se enraizaram com força no relativo isolamento do Recife.

Enquanto Bruscky, entre outros artistas, vê na distância dos grandes centros um motivo para "trabalhar mais", Lacerda enxerga esse fator como "autonomia para traduzir o resto do mundo", além de despertar uma "vontade de ser representado".

Tanto que recriou no personagem professor Joubert, em "Tatuagem", a figura de Jomard Muniz de Britto, que também documentou em super-8 as estripulias hedonistas da trupe Vivencial Diversiones --a Chão de Estrelas do filme-- nos anos 1970.

Expostos agora no Rio, os filmes de Muniz de Britto, com atores quase sempre pelados e retratados em cores saturadas, ecoam o clima hedonista e espalhafatoso que Lacerda criou em seu longa.

"É uma psicanálise informal, uma ficção diante das fricções representadas por esse grupo", diz Muniz de Britto sobre o filme "Tatuagem".

Nesse ponto, o artista aponta outra fricção com relação à mostra em cartaz. Na opinião de Muniz de Britto, a curadoria neutraliza essas experiências de desbunde e vanguarda ao expor tudo como peças inertes de museu.

"Aquilo foi a reinvenção do tropicalismo no Nordeste, uma manifestação da política do prazer", diz o artista.

"Mas é um perigo quando essas manifestações são museificadas'. Estão me assassinando ali, porque meu trabalho mais experimental não interessou à curadoria. Eu me considero excluído, só que de maneira elegante."


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