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Vale-Cultura começa a ser utilizado sem governo saber
Empresa do Paraná distribuiu os cartões; lançamento é hoje em SP
Trabalhadora compra material escolar, livros e artigo religioso, como um rosário, fora da lista de produtos permitidos
Antes mesmo do lançamento oficial do Vale-Cultura --e sem o conhecimento do governo federal, trabalhadores no Estado do Paraná já usam os cartões magnéticos.
Semelhante a um vale-refeição, o Vale-Cultura é um cartão de R$ 50 mensais que poderá ser distribuído a funcionários por empresas --algumas receberão abatimento no Imposto de Renda--, para gastos com atividades culturais. O valor é cumulativo.
A empresa Grupo Ribeiro, dona de cinco concessionárias de veículos no Paraná e no Mato Grosso do Sul, distribuiu cartões a 62 de seus 296 funcionários em 12 de dezembro. Os trabalhadores recebem salários de até R$ 1.150.
A entrega dos "primeiros" cartões pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, porém, está marcada para hoje, às 11h, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Segundo o governo, os primeiros a receber o benefício, no fim do mês, serão funcionários do Banco do Brasil.
Antes de ser informado ontem pela Folha de que já havia trabalhadores com o cartão, o Ministério da Cultura afirmara que não existia, "até o momento, nenhuma empresa utilizando o Vale-Cultura".
"Isso é uma questão de mercado. O ministério não controla [a distribução]. A partir do momento em que uma empresa é credenciada, já pode distribuir os cartões", diz a assessoria da pasta.
A inscrição para o programa começou em setembro. Até a conclusão desta edição, 1.269 empresas de todo o país estavam cadastradas.
Os 62 cartões em uso foram feitos pela Coopercard e distribuídos a concessionárias em Maringá, Londrina e Cruzeiro do Oeste (PR), e Campo Grande e Dourados (MS).
Segundo Henrique Ribeiro, diretor de marketing do Grupo Ribeiro, em cada cartão foram depositados R$ 200, referentes aos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro.
MATERIAL ESCOLAR
Quando recebeu o Vale-Cultura, Rosângela Maria Castelini da Silva, 44, zeladora da concessionária na cidade paranaense de Maringá, tentou comprar um ingresso no cinema, mas o local não aceitou o cartão. Então, foi à Livraria Rainha da Paz, que vende artigos religiosos.
"Comprei um livro do Padre Marcelo Rossi ["Ágape"] e um rosário", diz.
Com cerca de R$ 110, diz ter comprado também material escolar para o filho de sete anos, como livros, pastas e cadernos.
Segundo o Ministério da Cultura, a compra desses produtos é permitida. Já o rosário, diz a pasta, não poderia ser adquirido com o cartão.
A telefonista Josilaine de Andrade, 34, comprou ingressos de cinema para ela e para a filha de 10 anos. Ela diz que usará o dinheiro para comprar material escolar para a filha.
O governo exige que as empresas que administram os cartões enviem mensalmente informações sobre o uso do benefício. Segundo Silvio Domingues, diretor comercial da Coopercard, a empresa enviará hoje o primeiro relatório.