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Autora desbanca arte como investimento

Livro compara valorização de obras à de imóveis e ações e ataca 'regrinhas secretas' praticadas em leilões e galerias

Jornalista britânica calcula que só 5% das peças arrematadas em leilão geram algum lucro a seu vendedor

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Na ressaca do ano passado, que fez a alegria dos agentes de mercado com a venda retumbante de um tríptico de Francis Bacon por R$ 335,9 milhões, a obra mais cara já arrematada em leilão, é quase um absurdo dizer que arte não é um bom investimento.

Mas Melanie Gerlis, editora de economia do jornal "The Art Newspaper", de Londres, mergulhou nos --escassos-- números desse mercado para dar um conselho que irritou alguns galeristas.

"Se você sabe ganhar dinheiro com outras coisas, não tente ganhar com arte", resume Gerlis, que acaba de lançar "Art as an Investment?". "Esse é um mercado ineficaz, cheio de regrinhas secretas."

Num passo a passo desmistificador, seu livro tenta esmiuçar essas "regrinhas" e mostrar como pinturas e esculturas, na verdade, não se comportam em nada como ações, ouro, imóveis e outros itens na cesta de operações do mercado financeiro.

Num cálculo baseado em resultados de leilões, Gerlis concluiu que só 5% das obras arrematadas geram lucro.

Mesmo em casos de sucesso aparente, como quando o músico Eric Clapton vendeu uma obra do alemão Gerhard Richter por R$ 76,4 milhões, quase dez vezes o que havia pagado 11 anos antes, a autora ressalta que não se considerou a inflação acumulada no período nem gastos com a conservação do trabalho.

"É claro que uma obra pode dobrar de valor, mas é muito maior a chance dessa peça chegar a leilão e nem ser vendida", diz Gerlis. "Isso é o que os fundos de investimento em arte estão percebendo. É por isso que muitos deles estão fracassando."

COMPRA COLETIVA

Ela fala do fenômeno recente --em crise na China e na Europa, mas em voga no Brasil-- de investidores que se juntam para comprar obras na expectativa de que se valorizem, só para ofertar nos leilões na hora mais rentável.

Nessa estratégia, uma tela é dividida em partes na hora da compra, como ações de uma empresa, podendo gerar lucro para cada acionista na venda --é a manobra que estava por trás, por exemplo, do leilão da obra de Bacon.

Mas essa é uma exceção, e não a regra, na opinião de Gerlis. Segundo a autora, dividir em ações um bem que não gera lucro sozinho nem tem como expandir negócios é um contrassenso econômico.

Num universo de estatísticas flutuantes como o da arte, em que "preços são uma festa", ao contrário do dia a dia monitorado das Bolsas de Valores, Gerlis diz que é temerário fazer previsões, como construir uma "torre sobre fundações movediças".

No caso do ouro, que a princípio é tão inútil quanto a arte do ponto de vista econômico, a autora também dá mais valor ao metal, dizendo que sua oferta não é irregular quanto a de boas obras. Seus preços, ao contrário da arte, não são tão manipuláveis.

Mas Gerlis não prevê uma crise. Colecionadores, ela frisa, podem perder dinheiro, mas não deixam de comprar arte pelo gosto de ter um pedaço desse "mundo purpurinado" para chamar de seu.


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