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Análise

'Culto do ego' chega ao Brasil como dramalhão mexicano

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Nos anos 1990, o escritor e dramaturgo Bernardo Carvalho identificou na vanguarda teatral nova-iorquina o que chamou de culto do ego, que saudou como "o teatro americano mais inventivo".

Nos clichês psicológicos dos monólogos de Spalding Gray, saído do Wooster Group, apontou ecos da comédia stand-up. Nas performances de Karen Finley, além da palavra, o próprio corpo se expressava --contra a família, violentamente.

Gray se suicidou em 2004. Finley enfrentou censura, posou vestida de chocolate para a "Playboy" e hoje se recolheu às aulas de arte pública na New York University.

O culto do ego no palco, contemporâneo a fenômenos também americanos como o nascimento da "reality TV", ressoa hoje no teatro ibero-americano como dramalhão, nada bem-humorado.

Em contraste com o confessionalismo cômico de Gray ou mesmo Richard Foreman, diretor também listado por Carvalho, o espetáculo "Luis Antonio - Gabriela", de Nelson Baskerville, leva sua história pessoal muito a sério.

Apresentado há três anos, suas "quebras confessionais emocionam pela verdade escancarada", como escreveu então a crítica e roteirista Chistiane Riera. Apresentava-se como verdade e acabava sendo assim recebido pelo público, às lágrimas.

Gray, Foreman e Finley, pelo contrário, esticavam a corda entre realidade e ficção ao extremo. Neles havia radicalidade formal e de conteúdo, não a busca de uma narrativa melodramática.

A exemplo do que se tem no Brasil, a performance da espanhola Angélica Liddell troca o chocolate de Finley por seu próprio sangue, que é vertido em cena.

Foi assim em "Te Farei Invencível com Minha Derrota", que apresentou em 2010 na Mostra Sesc, e é assim em "Eu Não Sou Bonita", que ela traz em março para a Mostra Internacional de Teatro. Remete à Inquisição, ao catolicismo ibérico, nada de Freud ou comédia stand-up.


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