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Crítica - Contos

Verissimo frustra ao não dar espaço à imaginação do leitor imaginar

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

Uma personagem cantada pela escritora Gertrude Stein, "que apertara seu joelho com a força de um estivador". Um enólogo abstêmio. Uma musicista iconoclasta que toca seu violoncelo imaginário.

Essa exuberante tipologia sustenta os três melhores textos de "Os Últimos Quartetos de Beethoven e outros Contos", novo livro de Luis Fernando Verissimo.

O autor serve-se do potencial literário dessas figuras e desenvolve enredos originais.

Sua melhor estratégia desponta quando trabalha com os significados da ausência --o crítico de vinhos que não bebe álcool, a violoncelista sem o seu instrumento.

Os outros sete contos do volume, no entanto, carecem de inventividade. "O Pôster", que abre a série, retrata João e Maria, casal que aguarda o chefe do marido para jantar.

A intriga é uma sucessão de lugares-comuns, escrita quase que integralmente por meio de um discurso direto que apenas reforça a banalidade da história.

"Bolero", sobre um flerte durante a dança, e "Contículo", uma paquera deslavada no avião, têm o requinte de uma narração escolar.

Não pela linguagem coloquial, frases curtas e estrutura narrativa simples, mas pela ficcionalidade pobre, carente de literariedade.

Tentando amplificar o poder de histórias ordinárias, arremata-as inutilmente com piadinhas ou lampejos sem graça, o que não lhes acrescenta encanto algum. O escritor não deixa espaço para a imaginação do leitor, narra tudo tim-tim por tim-tim, ou coloca as explicações ululantes na boca de seus personagens.

No relato mais longo da edição, "A Mancha", onde teria linhas para aprofundar a densidade psicológica dos protagonistas, a mesma lenga-lenga: fatos enfadonhos, figuras maçantes e literatura pouco aprimorada.

Tudo bem que a coletânea é um apanhado de textos, entre inéditos e já publicados, mas a assimetria entre eles salta aos olhos. O talento do autor, reafirmado com o Jabuti de livro do ano de ficção por "Diálogos Impossíveis", não se materializa nesta obra.


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