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Mostra revê Rio da bossa nova e da ditadura

Exposição do fotógrafo Evandro Teixeira tem imagens icônicas da cidade nos anos 1960, da repressão aos biquínis

Imagens estão agora no Centro Cultural Justiça Federal; artista também é tema de uma biografia que sairá em março

ADRIANO BARCELOS DO RIO

O mote da exposição de fotos de Evandro Teixeira, no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio, é o 50º aniversário do golpe militar, mas, para o fotógrafo, os anos 1960 foram bem mais do que isso.

Nos 47 anos em que trabalhou no "Jornal do Brasil", Teixeira retratou generais, cobriu protestos, viu censores picotarem reportagens consideradas ofensivas à ditadura diante de jornalistas.

Mas também registrou a rebeldia de Leila Diniz, a revolução dos costumes nos biquínis das moças de Ipanema e viu surgir a bossa nova.

"O Rio era a capital cultural do país. Ficávamos no Antonio's Bar, até seis da manhã, eu, Tom [Jobim] e Vinícius [de Moraes], jogando conversa fora, só sentados, na porta", relembra Teixeira.

Do convívio com a intelectualidade da época, com escritores como Antonio Callado e Otto Lara Resende, uma amizade se sobressaiu: Carlos Drummond de Andrade.

Ele e o escritor mineiro costumavam trocar bilhetes na redação, alguns deles jamais publicados. Em março, uma biografia de Teixeira, escrita por Silvana Costa Moreira e Marcos Eduardo Neves, chegará às livrarias, trazendo algumas dessas mensagens.

O fato é que, com a intimidade, Teixeira criou coragem e pediu que Drummond escrevesse um texto de apresentação para um livro que lançaria. Na hora, o escritor não disse nem sim nem não.

Mas, para surpresa do fotógrafo, atendeu o pedido. "Olha, vê se você gosta", perguntou Drummond, acenando com o papel. Teixeira recebia ali o poema "Diante das Fotos de Evandro Teixeira", que mais tarde o escritor incluiria em um de seus livros.

"Das luas de rua no Rio em 1968, que nos resta mais positivo, mais queimante do que as fotos acusadoras, tão vivas hoje como então, a lembrar como a exorcizar?", diz o texto, exposto em uma das paredes da mostra no Rio.

A exposição tem 17 imagens icônicas da década de 1960, grande parte delas registros instantâneos do embate entre o Exército e manifestantes, como na Passeata dos Cem Mil, de 1968.

Uma fotografia impressionante é a de um estudante em fuga que, acossado por militares durante protesto na Cinelândia, também em 1968, caiu sobre o meio-fio. "Foi um berro triste. Quando me viram fotografando, [os militares] partiram para cima de mim. Mas como eu corria muito, não me pegaram."

A mostra tem também fotos insólitas e bem-humoradas. Um exemplo é o flagrante ousado de dentro do carro da rainha Elizabeth 2ª em visita a São Paulo. "Na saída de um museu, ela entrou no carro. Fotografei sem olhar. Dei sorte, saiu certo", afirma.


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