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Crítica comédia

Atores e seus personagens são mestres na arte do fingimento

MARCELO COELHO COLUNISTA DA FOLHA

Christian Bale exibe uma barriga respeitável nas primeiras cenas de "Trapaça". Sua companheira de golpes e estratagemas, Amy Adams, é bastante sedutora mas não esconde as ruguinhas e a pele com manchas de vários tipos.

O divertido filme de David O. Russell insiste num realismo corporal bem distante dos padrões de perfeição hollywoodianos. A ideia talvez seja deixar toda a falsidade a cargo dos personagens --um casal de aventureiros especializado em tirar dinheiro de patetas falidos, nos Estados Unidos da década de 1970.

Essa volta ao passado, com seu horroroso lastro de ternos berrantes e óculos gigantescos, serve sem dúvida ao propósito de representar com mais simplicidade, e toques de humor bem-vindos, um tipo de prática que assumiria dimensões astronômicas com os tombos financeiros da era Bush.

O mais interessante de "Trapaça" é mostrar que a ganância, o risco e o descuido não são exclusividade de investidores e golpistas. Também há muita temeridade do lado de quem os investiga, na figura do agente do FBI Richie DiMaso (o excelente Bradley Cooper).

Sua tentativa de capturar alguns pilantras, usando o casal trapaceiro como isca, vai se tornando cada vez mais ambiciosa. Deputados, senadores, um prefeito (Jeremy Renner, também ótimo), além de chefões da máfia para piorar o caldo, acendem a descontrolada fogueira investigativa do policial.

O espectador se deixa alegremente levar pelo jogo do "quem estará enganando quem". O problema desses filmes sobre golpes é que precisam ter uma trama complicada e ao mesmo tempo compreensível --de modo que a surpresa final faça um mínimo de sentido.

Ao preço de ser um pouco longo, "Trapaça" se safa bem dessa encomenda --e dá tempo para que se possa apreciar os tiques, os ridículos e os acessos de uma coleção de tipos bizarros, a cargo de atores que --como os personagens-- são mestres na arte do fingimento.


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