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Escândalo pode prejudicar musical de Woody Allen

Produtores de 'Tiros na Broadway' temem reação negativa de espectadores

Com estreia prevista para março nos EUA, espetáculo deve ser divulgado sem se apoiar na imagem do cineasta

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Na primeira cena de "Tiros na Broadway", de Woody Allen, David Shayne (John Cusack) tenta convencer seu produtor a emplacar uma de suas peças na Broadway. Ouve de Julian Marx (Jack Warden) que seria muito mais fácil fazê-lo se eles contassem com um grande diretor.

Em março, "Tiros na Broadway" será lançado como musical --com roteiro adaptado por Allen-- em Nova York.

A ironia é que, desta vez, o grande nome à frente do espetáculo pode se tornar um obstáculo para a obra.

A estreia do musical tem sido vista como o primeiro teste para Allen após ressurgirem as acusações de que ele teria molestado a filha adotiva Dylan Farrow quando ela tinha sete anos, em 1992.

O tema, que foi central no ano seguinte, durante a disputa judicial pela guarda dos filhos após o rompimento do namoro de Mia Farrow e Allen, foi retomado em entrevista de Mia à "Vanity Fair", em outubro.

Mas o caso só ganhou grande repercussão após a publicação de uma carta de Dylan, hoje com 28, em um blog do "New York Times", na qual descreve os supostos abusos. Na época, exames feitos com Dylan foram inconclusivos. Em um comunicado, Allen classificou a versão como "mentirosa e infame".

Antes da carta, porém, produtores de "Tiros na Broadway" já temiam que Mia e o filho Ronan aproveitassem a estreia do musical para atacar o diretor novamente.

Segundo o "Daily News", a produção convocou uma reunião emergencial para discutir como poderia divulgar o musical sem se apoiar tanto na imagem do cineasta.

"O público da Broadway é muito diferente do público do cinema. É mais intimista e, nas estreias, reúne a nata da cultura em Nova York", disse ao tabloide uma fonte da produção. O temor é que estes espectadores sejam mais influenciados pelas denúncias contra Allen.

Procurada pela Folha, a produção do musical não quis se manifestar sobre o caso.

ARTE E ARTISTA

A tentativa de Mia, Ronan e Dylan de atingir Allen por meio de sua obra ficou evidente desde a homenagem no Globo de Ouro. Na carta divulgada no último sábado, Dylan cobra um posicionamento de atores que trabalharam com Allen, como Cate Blanchett e Alec Baldwin, de "Blue Jasmine", o filme mais recente do diretor.

E tenta intimidar o leitor perguntando: "Qual seu filme preferido de Woody Allen?".

Baldwin respondeu a um espectador que lhe cobrou uma reação por Twitter: "Você está enganado se acha que há um papel para mim ou qualquer outra pessoa de fora nessa questão de família". Blanchett disse esperar que a família chegasse "a uma resolução em paz".

Para Mark Bauerlein, especialista em crítica literária, ainda é incerto o impacto do escândalo sobre o trabalho de Allen, que teve seu roteiro por "Blue Jasmine" indicado ao Oscar, a ser anunciado em 2 de março. "Às vezes Hollywood se mobiliza em torno da pessoa, protegendo-a, outras vezes, a evita."

Ele diz que é preciso "separar a arte do artista". "Se não fizermos isso, considerando coisas horríveis que tantos artistas fizeram em suas vidas, teríamos que descartar algumas das maiores conquistas da civilização."

Para a psicóloga Michelle Stevens, colaboradora da "Time", contudo, é impossível ficar indiferente. "Ao atacar os fãs de Allen e os atores que seguem trabalhando com ele, Dylan está reagindo à negação sistemática da nossa sociedade sobre o abuso sexual", diz Stevens. "Esse tipo de atrocidade exige que as pessoas assumam um lado."


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