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Crítica
Seriado troca Shakespeare por folhetim, com aborto e hackers
NELSON DE SÁ DE SÃO PAULONo primeiro capítulo da nova temporada de "House of Cards", Claire não lava as mãos como Lady Macbeth, após mais um homicídio de Frank: ela se maquia e perfuma as mãos, longamente. A inspiração shakespeariana ainda está ali, como quando ela manipulava o marido a perseguir o poder na primeira temporada.
De sua parte, Frank é ainda Ricardo 3º, nas tiradas ao público ("Você pensou que eu tinha lhe esquecido?", pergunta à câmera) e na ironia que leva o espectador --como na peça-- a torcer pelo mal. Assim é o primeiro capítulo, que ainda ecoa a série inglesa de 1990, da BBC, inclusive no homicídio da repórter.
Mas esta é uma série americana, pouco importa que sua distribuição seja agora mundial --assim como a campanha de marketing, daí o acesso privilegiado aos primeiros quatro capítulos.
Da tragédia elisabetana, dos personagens maiores que a vida, passa-se no segundo capítulo ao drama realista hollywoodiano, com seus conflitos morais e tópicos político-comportamentais saídos de MSNBC e Fox News.
Abre novas tramas para abordar estupro e aborto, no caso de Claire, e hackers, no caso do jornalista que passa a levantar os crimes de Frank. São trilhas de repercussão em mídia social: de um lado, estupro por general e aborto por licenciosidade; de outro, Projeto Tor e Anonymous.
Mas não é promissor para a nova temporada: esgarçamento de personagens, "núcleos" variados sem conexão maior, diálogo canhestro, situações inverossímeis.
Se soa como folhetim, é porque é.
HOUSE OF CARDS
AVALIAÇÃO bom