Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica samba

CD de Martinho da Vila revela mudanças nos sambas-enredos

Álbum reúne composições para o Carnaval desde 1957 até 2013, ano em que a Unidos de Vila Isabel venceu

LUIZ FERNANDO VIANNA ESPECIAL PARA A FOLHA

A importância de um CD com 24 sambas-enredos de Martinho da Vila ultrapassa a obviedade de ele ser um dos maiores nomes do gênero.

Ao percorrer do "Carlos Gomes", de 1957, com que estreou na Aprendizes da Boca do Mato, à composição que deu à Unidos de Vila Isabel o título de 2013 ("A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo, Água no Feijão que Chegou Mais Um"), "Enredo" reflete as mudanças por que os sambas das escolas passaram nas últimas cinco décadas.

Martinho começou quando os enredos tratavam da história do Brasil e, como se dizia, de seus "grandes vultos". Lindos sambas foram feitos naquela época, mas o travo oficialista era inevitável.

"Machado de Assis" (Boca do Mato, 1960) é prova de como o jovem Martinho, imbuído das regras de então, transformou um bom tema num samba enfadonho.

Nos anos seguintes, ele mostraria que narrativas históricas mereciam outras interpretações, e com músicas mais criativas.

É só ouvir no disco, por exemplo, "Glórias Gaúchas" (1970) e "Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade" (1972), duas maravilhas que têm em comum o uso de refrões folclóricos, marca do autor.

Temas afro-brasileiros, indígenas e da cultura popular se tornaram frequentes: "Tribo dos Carajás" (1974), "Raízes" (1987) --um ousado samba sem rimas--, "Gbalá, Viagem ao Templo da Criação" (1993) e outros, incluindo o mais célebre de todos, "Yayá do Cais Dourado" (1969).

Ousadia inesquecível foi "Sonho de um Sonho" (1980), baseado no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade. Levou-se para a avenida um assunto literalmente onírico.

E ainda há o comovente samba "Pra Tudo se Acabar na Quarta-feira" (1984), obra-prima sobre os verdadeiros (e anônimos) realizadores do Carnaval.

TABU

Este e muitos outros sambas reunidos em "Enredo" não resultaram em títulos. E muitos nem foram vitoriosos nas disputas internas da Vila Isabel.

Martinho enfrenta o tabu existente nas escolas de que, em nome da união, sambas derrotados devem ser esquecidos. E ainda dá a cara a tapa ao mostrá-los.

Ele se irritou ao perder a escolha para 2006, e a Vila foi campeã sem a sua presença. Mas a parceria com Luiz Carlos da Vila não estava à altura do talento dos dois. "Simon Bolívar Foi um Bamba" não chega a ser um grande verso.

Das criações recentes, aliás, destaque para "Noel - A Presença do Poeta" (2010), bálsamo em meio à mesmice dos tempos atuais, mas que sucumbiu diante da correria que está acabando com os desfiles das escolas.

A opção por fazer um CD com cordas e sopros revestiu de luxo as faixas, mas as esfriou um pouco. A aposta na percussão seria mais bonita.

E informar no encarte as datas dos sambas seria importante para o ouvinte entender a evolução de Martinho e as mudanças que ele ajudou a promover no Carnaval.

Participam do disco, entre outros, Beth Carvalho, Alcione e Mart'nália.

ENREDO
ARTISTA Martinho da Vila
GRAVADORA Biscoito Fino
QUANTO R$ 26,90 (em média)
AVALIAÇÃO bom


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página