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Mauricio Stycer

Visões do castelo

A série dinamarquesa 'Borgen' mostra bastidores do poder de forma mais viva do que 'House of Cards'

O lançamento da segunda temporada de "House of Cards" oferece uma boa oportunidade para observar como três produções diferentes enfrentam o desafio de retratar, por meio da ficção, o mundo do poder.

O fato de Barack Obama ser um fã declarado da série oferecida pelo Netflix faz pensar o quanto o ingênuo presidente democrata de "House of Cards" está distante da realidade.

É verdade que, na primeira temporada, o programa se concentrou mais no exercício de poder do então deputado democrata Frank Underwood (Kevin Spacey) dentro do Congresso e junto à imprensa.

Sentindo-se traído pelo presidente, que não o nomeou secretário de Estado, conforme estava acordado, Underwood faz tudo aquilo que nós, aqui fora, imaginamos ser da alçada de um político sem escrúpulos: ajuda a queimar o nome do indicado para o cargo com que sonhava, manipula votações, mente, troca cargos por votos, destrói carreiras, faz lobby suspeito e até comete um assassinato.

Na segunda temporada, com Underwood já no exercício de seu novo cargo, o de vice-presidente dos Estados Unidos, "House of Cards" abandona de vez o esforço de parecer crível, mas continua irresistível como série dramática temperada com suspense.

O mérito todo é de Beau Willimon, autor do texto, que trabalhou com vários políticos, inclusive Hillary Clinton, no final dos anos 1990, e do investimento, estimado em US$ 100 milhões (cerca de R$ 235 milhões), do Netflix na produção das duas primeiras temporadas.

Com toda a pompa e grandiosidade que as situações exigem, Willimon vende ao espectador a ilusão de estar dentro da Casa Branca presenciando os bastidores (repletos de golpes baixos) de episódios históricos.

Só recentemente conheci "Borgen", que faz um excelente contraponto a "House of Cards". A série dinamarquesa, lançada em 2010, já tem três temporadas. No Brasil, chamada "O Governo", é exibida na TV paga pelo canal +Globosat.

Primeira mulher na Dinamarca a assumir o cargo de primeira-ministra, Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen) comanda uma coalizão de centro-esquerda. Na vida pessoal, administra o lar (sem ajuda de empregados) e um casamento com dois filhos.

A cada episódio, aberto com uma citação ("O que parece idealismo é amor ao poder disfarçado", de Bertrand Russell, por exemplo), Nyborg enfrenta um problema político e algum drama familiar. Como Underwood, ela tem um assessor pessoal, que manipula a imprensa, mas frequentemente suas "plantações" a prejudicam mais que a beneficiam.

"Borgen" é de uma simplicidade assustadora. Os políticos, da extrema direita à esquerda, defendem seus pontos de vista com franqueza explícita. A luta política é crua, objetiva e sem pompa, tanto nas sessões do Parlamento quanto nos gabinetes.

Diferentemente de Frank Underwood, Birgitte Nyborg parece de carne e osso, seja ao pedir desculpas por ter armado contra um ministro do Partido Verde, seja ao ver a filha adolescente ter uma crise de pânico.

Não sobrou espaço para falar de uma terceira opção. "Scandal", em exibição no canal pago Sony, mostra os bastidores da Casa Branca ocupada por um presidente republicano. A série é ruim demais, mas estou viciado. Prometo voltar ao assunto.


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