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Deficiência vira técnica de dança em balé

Grupo francês MPTA, atração da Mostra Internacional de Teatro, faz apresentações gratuitas hoje e amanhã em SP

Em coreografia com elementos de circo, bailarino com perna amputada usa muleta como elemento cênico

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Um respeitável casal circula pelo palco. Ele de camisa branca, calça e paletó pretos, ela com um vaporoso vestido de noiva. Quatro músicos seguram seus instrumentos sem emitir um som.

Para quebrar o silêncio e a sequência de movimentos repetidos mecanicamente, entra em cena o terceiro elemento, um homem sem uma perna, de muletas.

É Hedi Thabet, 39, dançarino e artista de circo belga que concebeu o espetáculo junto com seu irmão Ali, 37.

A coreografia "Nós Somos Semelhantes a esses Sapos...", do grupo francês MPTA, é uma das atrações da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que acontece na cidade até o dia 16.

Em sintonia com o objetivo da mostra de pensar o teatro de forma expandida, o trabalho do grupo francês também visa ultrapassar fronteiras. A coreografia contemporânea é acompanhada por música tradicional do Mediterrâneo; a dança é também circo; a deficiência física vira virtuose técnica.

As referências vão das origens dos irmãos Thabet, filhos de mãe belga e pai tunisiano, à poesia moderna francesa --o nome do espetáculo vem de um verso do poeta René Char (1907-88), "Somos semelhantes a esses sapos, que na noite austera do pântano se chamam e não se veem".

O grito de amor do sapo é dançado por Hedi, pela bailarina francesa Artemis Stavridi e pelo também francês Mathurin Bolze, diretor da companhia MPTA (iniciais em francês de mãos, pés e cabeça também).

Com movimentos acrobáticos e inspirados em danças étnicas, os três corpos se buscam, se unem e se separam ao som de uma trilha sonora que parece ser executada por beduínos do deserto. Os músicos, que ficam no palco, são da Grécia e da Tunísia.

Cantada em árabe, a música é um estilo criado por gregos que moravam na Turquia e foram expulsos do país.

"Chama-se rebético' e é como o blues, uma lembrança: eles precisavam da música para saber de onde vieram, quem eram", diz Ali Thabet.

Seu irmão Hedi usou a dança para descobrir isso. Espécie de criança-prodígio do malabarismo, ele começou no circo aos oito anos. Aos 18, teve um câncer de osso, que levou à amputação da perna.

Após dez anos vivendo como "um sonâmbulo, sem projetos, nem expectativas", voltou a dançar, estimulado pelo amigo Mathurin Bolze, que o convidou para criarem juntos cenas coreográficas.

"Começamos sem pensar em montar um espetáculo. Era como um jogo: como carregar um ao outro, como se equilibrar em uma perna, coisas que já fazíamos no circo", conta Bolze.

Durante o trabalho, o diretor da MPTA também aprendeu a usar muletas e junto com Hedi as transformou em elemento cênico e as usou como apoio para acrobacias.

O jogo cresceu e virou o espetáculo "Ali", que também será apresentado em São Paulo na mostra de teatro.


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