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'Alemão' da ficção chega ao cinema sob tensão crescente nas favelas

Diretor José Eduardo Belmonte diz que longa não defende tese, mas mostra dramas pessoais

Aumento da violência no complexo de comunidades que serve de cenário ao longa coincide com estreia

GUILHERME GENESTRETI ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Na última segunda, enquanto a polícia prendia suspeitos de atacarem uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no Complexo do Alemão, um cinema da Barra da Tijuca fazia a pré-estreia de um thriller inspirado na ocupação daquelas favelas.

O longa de ficção "Alemão", do diretor brasiliense José Eduardo Belmonte, lançado com uma campanha publicitária gigantesca, se passa nas 48 horas que antecederam a tomada do complexo por forças de segurança, em 2010.

Intercalando imagens reais da operação, que teve até tanque de guerra, o longa adota a perspectiva de policiais, infiltrados para ajudar a implantar as UPPs no Alemão.

Descobertos pelo chefe do tráfico (Cauã Reymond), eles se escondem em um porão.

Com o lançamento ocorrendo na mesma semana em que a Segurança Pública do Estado cogita uma reocupação da região pelo Exército, Belmonte diz que seu filme não defende uma tese sobre os fatos.

"Mais interessante, nesse tempo de incerteza, é articular as perguntas", afirma. "O filme não toma partido, mas levanta discussões sobre o tema. As pessoas encaram a UPP como o fim de uma novela, mas ela é só um começo."

Segundo ele, o filme é "mais sobre a psicologia, os dramas pessoais, do que sobre a sociologia" do evento.

Em uma cena, um dos confinados (Caio Blat) diz que a operação vai ajudar a comunidade. "Mas a gente não pediu nada", rebate uma moradora (Mariana Nunes).

"Ele é o mais ingênuo, acredita na cartilha da polícia", diz Blat sobre o personagem que interpreta. "Acha que a ética vai nortear a invasão."

MEL E PIMENTA

O filme teve locações em duas comunidades (Rio das Pedras e Chapéu Mangueira) além do complexo, onde foram rodadas as cenas do QG de Playboy (Reymond).

A relação com as UPPs no local foi "zero", segundo o produtor Rodrigo Teixeira.

"A gente só ligava para saber se tinha tido tiroteio."

Já no Rio das Pedras, área controlada pela milícia, a situação foi outra: "Ali tinha jeitinho brasileiro. Não havia uma entidade organizada, cada hora aparecia alguém se apresentando como líder".

Para viver Playboy e "pegar o suingue", Cauã diz que ouviu muito "proibidão" no carro, bebeu cerveja com membros da comunidade e falou com ex-traficantes, "para saber como alguém se sente quando mata outra pessoa".

Dessas conversas, tirou um de seus bordões no filme: "A gente precisa deixar de ser bandido para ser criminoso".

O galã explica a diferença: "Tem traficante que não quer ser bandido, não quer matar. O criminoso é o traficante que tem a mente no business'".

O grupo (além de Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr, Milhem Cortaz e Otávio Müller) passou por testes físicos, sob ordens do diretor.

"Ele instaurava a sensação de violência mandando a gente comer pimenta malagueta e dizer o texto", diz Caio Blat. "Enchia as nossas roupas de mel para criar a ideia de ter de ajudar alguém sangrando."

O filme dá algum retorno à comunidade? "Joga luz sobre as pessoas de lá que têm as suas versões sobre a história", diz Belmonte. "Se um blockbuster incentivar as pessoas a conhecer os documentários feitos pela própria comunidade ali, já é um retorno."


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