Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Mônica Bergamo

FÁTIMA NO ESPELHO

A apresentadora da TV Globo estreia na publicidade, afirma que valor estimado de seu cachê "tá exagerado" e defende a emissora das críticas que sofre em manifestações: "É claro que eu acho injusto"

-

Dois anos depois de deixar o "Jornal Nacional" e partir para a área do entretenimento, no comando do programa "Encontro com Fátima Bernardes", a apresentadora dá um passo além: ela estrela, pela primeira vez na vida, um anúncio publicitário. É uma decisão delicada para quem construiu reputação como jornalista. Mas ela, aos 51 anos, diz acreditar que sua credibilidade não será afetada. Fátima falou sobre o assunto com a coluna. E também sobre casamento, internet, Copa, protestos. Abaixo, um resumo:

-

Folha - Você tem 30 anos de carreira como jornalista e agora começou a fazer publicidade. Como foi essa decisão?

Fátima Bernardes - Quando eu saí do jornalismo, vivi uma mudança muito grande. Era quase uma mudança de emprego. E precisava dar um tempo para mim. Recebi muita proposta, de tudo o que você pode imaginar. Planos de saúde, operadora de telefonia. Sabia que um dia ia fazer. É uma outra forma de rendimento, é uma outra grana que entra. Eu tenho três filhos. Houve convites: "Fátima, a gente tem uma campanha de cigarro, de supermercado". E eu olhava. Poderia ser, assim, a 20ª campanha. Mas não a primeira. Esta [da empresa alimentícia Seara] tinha uma identificação comigo. Eu surpreendi quando saí do "Jornal Nacional". E a campanha tem toda essa conotação. O Washington [Olivetto, publicitário responsável pelos anúncios da Seara] nem precisou usar todo o seu enorme poder de convencimento.

Mesmo no programa, você segue sendo jornalista. Não tem medo de que isso arranhe a sua credibilidade?

Eu refleti. Eu acho que não. Eu estou há tanto tempo fazendo o que eu faço... As pessoas acreditam em mim porque eu venho de uma carreira muito séria. O fato de eu dançar no programa, ou de fazer publicidade, não vai tirar a seriedade do que eu faço. Então eu acho que isso vai entrar tranquilamente, como quando entrou o primeiro merchandising no programa.

Você pode aparecer na televisão e levar as pessoas a comprarem mais frango. É um poder muito grande.

Quem já fez o "Jornal Nacional" sabe o tamanho desse poder também. Você leva algo muito mais importante do que frango, que é a informação. A gente já lida com essa faca no pescoço diariamente, a cada fechamento, sabendo que qualquer erro tem o tamanho de um canhão para matar uma borboletinha, uma formiga. Hoje é diferente. Eu não estou obrigando ninguém a comprar nada, eu estou falando de algo que existe no mercado e estou sugerindo uma experiência.

Há estimativas de que seu cachê chegou a R$ 5 milhões.

Tá muito exagerado. As pessoas falam barbaridades. Eu não vou falar para ninguém de cachê. Não tem nenhum sentido. Assim como nunca falei de salário. É uma questão tão pessoal! Eu tento segurar o máximo possível um pouco da minha vida. Acho até que eu consigo.

O William Bonner gosta de colocar fotos nas redes sociais.

Ele gosta mais. E foi me conquistando. Devagarinho, botava uma silhueta, as mãos das crianças. E depois elas mesmas começaram a usar [internet]. Eu não vou proibir um filho meu de ser como qualquer outro jovem, que quer botar as suas fotos fazendo careta, jogando beijinho com os amigos. Mas eu sou um ser analógico.

Você celebrou recentemente 24 anos de casamento.

Os fãs fizeram as contas, fizeram contagem regressiva [nas redes sociais]. Botavam "tá faltando um dia...". Eu descobri que estava fazendo bodas de opala, que é uma pedra dos 24 anos [de união].

Sem grandes crises?

Nenhuma que ameaçasse a gente de continuar junto. Nada. Agora, uma coisa ou outra chateia, como acontece com qualquer casal. Eu detesto essa imagem de que a gente não tem nenhuma divergência. Mas a gente tem algo mais forte, que é a vontade de ficar junto.

Você hoje, com essa receita de publicidade inclusive, ganha mais do que ele?

A gente já passou por isso. Já houve momentos em que eu ganhei mais e outros em que ele ganhou mais. Então a gente alterna. Não tem o que cada um ganha e o que cada um gasta. É tudo junto, é um caixa único.

Você sente falta da rua, das reportagens de campo?

Eu quis fazer um programa de manhã com plateia porque tinha medo de ficar trancada num estúdio, distante de tudo. E a ideia é que a gente leve o "Encontro" para um determinado lugar, aleatório. Apenas para que as pessoas estejam mais perto dele.

Qual é a sua expectativa em relação à Copa? O que está achando dos protestos?

Eu adoraria que não fosse assim, que a gente não precisasse dividir a atenção nesse momento. Mas eu acho que, por ser um momento de muita visibilidade, ele vai ser usado por quem quer se manifestar. Eu compreendo isso. É quase uma lei de mercado, né? Os holofotes estarão aqui, as pessoas vão querer aproveitar, eu acho lícito. A gente vai ter, de novo, dois Brasis: um dentro dos estádios, com festa, e o do outro lado, nas ruas, tentando aproveitar o momento para falar de suas necessidades. Eu estive em Atlanta [em 1996]. Houve manifestação contrária à Olimpíada. Nem toda a cidade estava fechada com o evento. Tudo bem. Mas você não pode colocar em risco as pessoas que estarão aqui, brasileiras ou de outros países.

O que mais viu em Atlanta?

A periferia estava bem complicada. Eu recebi da polícia a orientação de não ir a determinadas regiões depois de determinado horário. Na África do Sul [na Copa de 2010], havia áreas em que as pessoas não deveriam circular. Eu só espero que haja respeito acima de tudo, aos dois momentos do Brasil. O país decidiu sediar a Copa, é um compromisso que a gente assumiu. Seria horrível a gente ver um país completamente militarizado, com tropas em todos os lugares, para poder viabilizar um jogo de futebol.

Como você vê as hostilidades à TV Globo nos protestos?

Dessa vez [nos protestos de junho de 2013], eu não senti algo só contra a Globo. Foi algo mais preocupante, contra a imprensa de uma maneira geral. É muito difícil você lidar com liberdade, não é? A liberdade de imprensa é para registrar os dois lados. Há uma dificuldade, como se você tivesse que tomar partido.

Mas a imprensa não está acima das críticas.

É completamente válido [protestar contra a imprensa], usando de respeito e deixando o outro trabalhar. A gente não está ali para se divertir. É legítimo? Tudo bem. Mas eu sei da seriedade do que é feito ali. Eu tenho certeza da idoneidade dos meus colegas e do caráter de todos eles. É claro que eu acho injusto. Às vezes, numa manifestação, num conflito, você tem um certo receio. A rua não é um lugar fácil de trabalhar. É para bravos. Para corajosos.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página