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Mauricio Stycer

Aposta no texto

Com cenas longas e bem escritas, a novela 'Em Família', de Manoel Carlos, luta contra baixa audiência

Depois de 40 capítulos, um triângulo amoroso tem se revelado uma das tramas mais interessantes de "Em Família", novela das 21h da Globo. A situação envolve a paixão da fotógrafa Marina (Tainá Müller) por Clara (Giovanna Antonelli), que é casada com Cadu (Reynaldo Gianecchini).

No capítulo de segunda-feira (17), o marido questionou a mulher sobre o interesse de Marina. A conversa, alternando momentos ríspidos com outros mais tranquilos, durou cinco minutos. "A gente não vive numa ilha. Assédio acontece", diz Clara, antes de admitir: "Se existe algum desejo nisso, meu ou dela, te garanto que só ficou no desejo. Pelo menos, por enquanto."

Dito isso, ela sai da sala e vai para o quarto. Por mais 90 segundos, sem diálogos, o público primeiro vê Clara transtornada pela revelação que fez e, em seguida, Cadu na sala, com cara de sofrimento.

A cena durou, no total, seis minutos e meio --uma eternidade hoje em novelas. Ela é um bom exemplo das qualidades exibidas, bem como dos problemas enfrentados pela trama de Manoel Carlos.

Como noticiou a coluna "Outro Canal" nesta semana, "Em Família" ainda não embalou. O folhetim chegou a registrar índices abaixo dos 30 pontos num horário que tem como meta 40 (cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande SP).

A boa cena de Clara e Cadu não constitui uma situação excepcional na novela. Manoel Carlos, mais uma vez, tem mostrado cuidado especial com os diálogos e a qualidade do texto em suas histórias.

Ainda que alguns personagens pareçam copiados de tramas anteriores do autor, "Em Família" oferece outros bons tipos, além deste triângulo. Há Juliana (Vanessa Gerbelli), frustrada por não ter sido mãe e capaz de loucuras para ter um filho. Há o garoto branco, André (Bruno Gissoni), que tem vergonha de Dulce (Lica Oliveira), a mãe adotiva negra.

Há, ainda, o casal de protagonistas, Helena (Julia Lemmertz) e Virgílio (Humberto Martins), cuja relação se funda mais em piedade do que amor. E a sugestão de que a filha deles, Luiza (Bruna Marquezine), vai se relacionar com o homem, Laerte (Gabriel Braga Nunes), que era apaixonado por Helena e tentou matar Virgílio no passado.

Outros dois temas socialmente importantes, ainda que já abordados antes, também estão em discussão por meio de personagens secundários, o alcoolismo e os maus-tratos a idosos.

Parece estar tudo lá para um bom folhetim, mas o público não está comprando. O que falta? Arrisco uma hipótese. Se fosse um som, eu classificaria o estilo conservador da direção de Jayme Monjardim como "muzak", ou música de elevador. Não é algo que incomode, mas não surpreende.

Outra hipótese: Manoel Carlos estaria travando uma luta perdida. Antes da estreia, questionado pela "Veja" se o gosto do público mudou, ele disse: "Já me falaram isso, mas não sei se é verdade. No momento, todo mundo quer aquele ritmo instantâneo de Avenida Brasil'. Mas quem fez aquilo foi o João Emanuel Carneiro, um autor jovem que buscava seu jeito de fazer novela. Isso não quer dizer que eu, aos 80 anos, deva sair por aí imitando um garoto. Não vou pagar o mico de macaqueá-lo. Vou fazer do jeito que sei. É no que acredito".


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