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É só comédia

Festivais em Curitiba e SP consolidam stand-up como atração de massa, antes mesmo de virar sucesso na TV

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

"Seinfeld" imperava na TV e um publicitário de Curitiba, Diogo Portugal, queria emplacar "stand-up comedy" no país. Ligou para o amigo Paulo Bonfá em São Paulo para ver se dirigiria um show.

Apresentador na MTV, Bonfá lembra a conversa, no começo dos 2000: "Show de quê?", "Stand-up", "Putz, só eu e você vamos assistir".

O show não saiu, mas Portugal começou a se apresentar nos bares curitibanos.

Em 2003, convidou o também amigo Leandro Knopfholz, criador do Festival de Curitiba, que recorda: "A gente foi ver. Copiava do Festival de Edimburgo, que faz stand-up, mas tinha dúvida no Brasil. Achava que humor aqui era só Ary Toledo. Apostamos, mas com o pé atrás".

O Risorama nasceu em 2004 e, atraindo novatos como o carioca Bruno Mazzeo, logo se tornou uma das maiores bilheterias do festival. Marcelo Mansfield, pioneiro da cena stand-up paulistana, estava na primeira edição.

"Eu ainda fazia personagem no Terça Insana', mas o Diogo já fazia stand-up. O Risorama foi o ponto de passagem daqueles espetáculos de quadros, como a gente fazia desde os anos 80, eu, a Grace [Gianoukas], para o começo do stand-up no Brasil", diz Mansfield.

No ano seguinte, com Rafinha Bastos e Marcela Leal, depois também Danilo Gentili e Portugal, Mansfield lançou o Clube da Comédia Stand-Up em São Paulo, em bares como Mr. Blues.

Portugal lembra que "só ia amigo e ninguém gastava nada", resultando em pouca ou nenhuma renda.

O quadro só iria mudar quando Jô Soares apareceu para ver, deu dicas para melhorar e chamou os novos comediantes para entrevistas em seu "talk show".

A partir daí a história é conhecida. Em 2008, começa o "CQC", com Rafinha, Danilo e outros, e o gênero explode. Quase todos foram parar na internet e na TV, aberta ou paga, em formatos variados. Portugal está na RedeTV! e no Multishow, mas segue no Risorama. Sobe hoje ao palco com Fábio Porchat e outros.

MASSA

Paulo Bonfá, conhecedor do Risorama, começou a projetar um festival um pouco diferente para São Paulo. Com trajetória de humor ligado a futebol, no rádio e na TV, queria juntar todo mundo. "A turma do rádio não conhece a do teatro, a da internet não convive com a da TV", justifica.

Foram anos de conversas com Portugal, Marcelo Madureira, o palhaço Wellington Nogueira e o cartunista Caco Galhardo, entre outros, até lançar o Risadaria em 2010.

"A intenção é sempre a maior democratização de conteúdo que a gente puder, mas lógico que você fala, Pô, tem muita cara de stand-up'", diz Bonfá. "É porque a cena humorística hoje tem muita gente fazendo." De Portugal a Danilo, "quase todo mundo" já se apresentou no Risadaria, que este ano terá "mais de 200 apresentações".

Rafinha agradece e diz que o Risadaria, como o Risorama, "é mais do que uma amostra da força do gênero e mais do que uma oportunidade mercadológica". Para quem "viaja pelo país sozinho este é, sim, um momento no ano para se divertir com os amigos, uma oportunidade única para os comediantes conversarem".

Em uma década, os dois festivais estabeleceram a comédia stand-up como fenômeno de massa no Brasil.

O curitibano Risorama se firmou em mais de 10 mil espectadores anuais. E o paulistano Risadaria, que já havia atingido 30 mil em 2012, explodiu em 2013, quando bateu em inesperados 280 mil.

"O canadense Just for Laughs, que eu visitei, chega a receber meio milhão de espectadores e é o maior festival de humor no mundo", diz Bonfá. "Mas ele começou nos anos 80 e hoje seu grande evento é em inglês, em Toronto. A gente está indo só para a quinta edição, fazendo um projeto lusófono que já é um dos maiores no mundo."

Em meio à festa em torno de Risadaria e Risorama, o pioneiro Mansfield faz uma ressalva: "Esses festivais poderiam abrir um pouquinho mais para gente nova. Em vez de ficar com medo de perder bilheteria, deveriam dar espaço aos jovens comediantes, gente de qualidade que está começando agora".


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