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Análise

Francês transformou olhar de acadêmicos sobre Idade Média

PARA UMA FRANÇA POLARIZADA POLITICAMENTE, LE GOFF NUNCA DEIXOU DE SER UM HOMEM DE ESQUERDA

JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O historiador Jacques Le Goff foi um dos mais influentes intelectuais do século 20. Por meio de seus livros e da revista "Annales", transformou o olhar do meio acadêmico sobre a Idade Média.

Le Goff, autor de livros como "Uma Breve História da Europa", seguiu o caminho aberto, na França, pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, que desde o final da década de 1920 trilharam uma via intermediária para o estudo da história.

Não se tratava mais de alinhavar biografias edificantes que pudessem servir moralmente de exemplo para o homem contemporâneo (os santos dentro do catolicismo, por exemplo) ou então, e na esteira do marxismo, de colocar em primeiro plano a economia e estudar os conflitos gerados pela escassez.

O grupo dentro do qual Le Goff surgiu, também chamado "Nova História", valorizava as mentalidades, incorporava a antropologia à leitura de velhos manuscritos, identificava hierarquias paralelas ao esfacelado poder político medieval. As pertinências das pesquisas se deslocavam.

No livro "Os Intelectuais na Idade Média" (1957), por exemplo, estudou o cotidiano estudantil no século 13 e não os teólogos influentes naquela época.

SISTEMAS ORIGINAIS

Com Le Goff, a Idade Média deixou de ser vista como um longo período que colocou o progresso entre parênteses e, com suas supostas "trevas", serviu apenas de penoso caminho da humanidade na direção do Renascimento.

O historiador não apenas fazia uma espécie de arqueologia das mentalidades que coexistiam na Europa. Ele também as considerava sistemas originais, das quais o século 16 e o mercantilismo seriam bons herdeiros.

Abordou os banqueiros, o dinheiro, as percepções diferenciadas de Deus, o nascimento do purgatório dentro do cristianismo ou a relação entre os santos, reis e heróis.

Uma exceção nessas pinceladas de cores múltiplas foi sua biografia "São Luís" (1996), porque Luís, como rei da França, gerou imagens poderosas que enriqueceram e nutriram a mentalidade do homem medieval.

Nascido em Toulon, era filho de um professor secundário e militante anticlerical. Passou em 1945 o concurso de ingresso à Escola Normal Superior --que forma a elite docente francesa-- e, já como historiador, interessou-se pela temática medieval. Pesquisou arquivos em Praga, Roma ou Oxford.

Foi um dos protegidos do historiador francês Fernand Braudel (1902-1985), que o convidou para ser bolsista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da qual foi diretor entre 1972 e 1977.

Fortaleceu essa instituição um tanto órfã no organograma do ensino superior e da pesquisa francesa, espremida entre as universidades e as grandes escolas, como a "Normale Sup".

Para um país polarizado politicamente, Le Goff nunca deixou de ser um homem de esquerda. Tinha ojeriza pelo Partido Comunista e pela União Soviética. Dizia-se socialista e, nos anos 1960, chegou a se filiar ao PSU (Partido Socialista Unificado), cisão à esquerda do atual Partido Socialista.


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