Folha de S.Paulo

Crítica

Realidade invade o mundo das fábulas em filme de diretor baiano

A obra do baiano Edgard Navarro é com frequência atravessada por cenas escatológicas que, para ser franco, não me entusiasmam nada. O fato de coisas feias existirem, como ele diz, não me convence de que seja essencial mostrá-las (não à maneira literal que por vezes surge em seus filmes, pelo menos).

Dito isso, "O Homem que Não Dormia" (Canal Brasil, 22h) pertence a outro registro. Por um lado, está no mundo das fábulas, das mulas sem cabeça, dessas fantasias que enchem a existência infantil de horror e delícia.

Mas há outras fábulas. As que não se contam. As dos subterrâneos da repressão. Elas são a outra e fundamental parte do filme. Então, os loucos que berram na rua, os que aparecem enforcados em árvores, adquirem outro sentido: são, de repente, o real que invade e transtorna o mundo da fábula.