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Análise
Abordagem estereotipada sobre deficiência chega a irritar
JAIRO MARQUES COLUNISTA DA FOLHAO desafio de filmes com temáticas que envolvam deficiências, sejam elas físicas, sensoriais ou intelectuais, é tentar domar "verdades" projetadas de fora desse universo para dentro dele.
Conseguir vencer um olhar estereotipado sobre cegos, surdos ou cadeirantes é abrir caminho para o sucesso, já que transporta o espectador para uma experiência questionadora de seus conceitos ao mesmo tempo que surpreende, encanta e diverte.
É nesse sentido que obras como "As Sessões", "Intocáveis" ou "Hasta la Vista" cativaram diferentes públicos e se tornaram referências para debater inclusão, mesmo as tramas não tendo necessariamente esse objetivo.
A cegueira não é o único foco de "Hoje eu Quero Voltar Sozinho", mas é impossível não examinar sua abordagem sobre essa deficiência e, nesse sentido, são irritantes algumas representações.
Cegos usam normalmente os verbos relativos à visão e, a sua maneira, assistem TV e navegam no Youtube. Não existe "climão" quando o tema é abordado, conforme sugerem passagens do filme.
Cegos têm independência, não possuem limitações cotidianas tão extremas ou bobas como necessidade de orientação para caminhos corriqueiros, ajuda para diferenciar um cachorro de uma pessoa ou mesmo que se abra uma fechadura para ele.
Cinema é ficção, mas reproduzir conceitos velhos não ajuda a mudar a mentalidade sobre os coitadinhos de sempre.
A trama vai bem, contudo, quando mergulha na construção de relações amorosas e sexuais da adolescência, o que envolve dúvidas, ciúme e a chatice dos colegas que se acham mais moderninhos e bem resolvidos que os outros.
Nesse momento, fica mais tranquila a tradução de que todos podem ser iguais, desde que entendidas as suas diferenças, em qualquer aspecto da vida: na escola, na cama ou andando de bicicleta.
