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Crítica - Ensaio

Livro analisa 'amor literário' em canto de cisne virtuoso

SIDNEY MOLINA DO CRÍTICO DA FOLHA

"Por que a poesia é poesia e não outra coisa, seja história, ideologia, política ou psicologia?" Em "A Anatomia da Influência" (2011), lançado no Brasil no ano passado, o crítico literário Harold Bloom volta ao tema que o colocou no centro dos estudos literários nos anos 1970: "É meu canto do cisne", afirma.

Para Bloom, o pensamento poético é sempre uma forma de memória, a angústia da influência que ao mesmo tempo move e paralisa o jovem autor diante da força dos precursores.

Nascida no embate com os formalistas, sua teoria exercitava um caleidoscópio cabalístico de tropos e defesas psíquicas, um "mapa da desleitura" que desatou a influência do mero estudo das fontes e alusões.

A definição madura evita essas categorias: "No labirinto deste livro, elas não podem fornecer um fio desejável, já que apenas Shakespeare e Whitman conseguem fazê-lo".

No novo livro, a influência é comprimida nas ambivalências da expressão "amor literário". A obra não um tratado teórico, já que, antes de tudo, comenta obras específicas de cerca de 30 autores.

Além de Shakespeare e Whitman, estão ali Milton, Joyce, os herdeiros de Shelley e nomes da geração do próprio Bloom. Análises de Paul Valéry e Leopardi temperam a presença maciça dos autores de língua inglesa.

Não é fácil traduzir um autor cujo virtuosismo faz dos poetas ao mesmo tempo causa e consequência de sua própria voz. Sua prosa reverbera uma apreciação musical dos textos, em um fio tênue que não se sobrepõe à "poesia da poesia". A versão brasileira tem o cuidado de oferecer o original das traduções.

Incomodam apenas duas opções terminológicas que já haviam sido bem resolvidas em português: "relações revisionais" ("revisionary ratios"), ao invés de "razões revisionárias"; e, sobretudo, "má avaliação" ("misprision"), ao invés de "desapropriação" e "expropriação".

Em um dos capítulos mais originais, Harold Bloom analisa a influência de uma mente sobre si mesma, a capacidade da literatura criar formas de vida; afinal, "se Falstaff e Hamlet são ilusórios, então o que somos eu e você?".


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