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Encenador vê 'amor pela humanidade' em Beckett

Em 'Oh os Belos Dias', personagem soterrada em deserto mantém otimismo

Diretor Rubens Rusche se opõe a visão de que obra do irlandês, que monta pela quinta vez, é niilista e pessimista

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Rubens Rusche encontra luz no vazio dramatúrgico de Samuel Beckett. Em "Oh os Belos Dias", sua quinta montagem a partir da obra do autor irlandês (1906-1989), o encenador aprofunda uma visão beckettiana contrária ao senso comum.

Não classifica os textos do dramaturgo irlandês como pessimistas ou niilistas. "Eu me oponho à leitura de que em Beckett o ser humano já era. Percebo em suas peças um profundo amor pela humanidade. Seus personagens estão impossibilitados de continuar, mas mesmo assim seguem em frente", diz.

Considerado um especialista em teatro beckettiano, Rusche foi premiado por encenações como a de "Fim de Jogo", vencedora do APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de direção em 1996.

Em "Oh os Belos Dias", clássico também conhecido como "Dias Felizes", uma terra desértica impossibilita Winnie (Sandra Dani) de desfrutar plenamente sua existência. Ela surge enterrada até a cintura. No segundo ato, a terra sobe até seu pescoço.

Mesmo assim, Winnie não esmorece. Incansável e otimista, aplaca a solidão e preenche o vazio existencial com uma torrente de palavras.

ESCOVA DE DENTES

No túmulo mortuário no qual ela se funde, representação da passagem do tempo e de sua realidade interior, ela se entretém com os objetos que a circundam. Interage de forma repetitiva com escova de dentes, sombrinha e bolsa. Busca se prender a situações cotidianas para tentar dar ordem ao caos.

"Winnie é muito criativa. Fico admirado como consegue fazer tanto com tão pouco recurso", diz Rusche. "Como a maioria de nós, Winnie acaba preferindo o tédio da existência ao sofrimento de ser."

Rusche chama sua relação com a obra de Beckett de "paixão à primeira vista que se transformou em amor profundo e grande amizade".

Vê em sua dramaturgia a representação do homem contemporâneo. "Beckett fala sobre nossos principais dilemas, como perda da identidade, passagem do tempo e a prisão das palavras. Seu teatro parece ter sido escrito ontem", diz o diretor.


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