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Não sei o que é Google, disse Gabo em 2003

Numa conversa, García Márquez relatou o hábito de escrever em computador, usar disquete e ler jornais on-line

Para colombiano, o problema do jornalismo na internet é o mesmo de sempre para o ofício: 'a veracidade dos fatos'

FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIA

Melhor do que o prêmio foi conhecer e conviver por dois dias com Gabriel García Márquez, o idealizador da FNPI (Fundación para el Nuevo Periodismo Iberoamericano).

Numa das várias conversas informais que tivemos ao longo do evento em Monterrey (México), ele falou sobre como e quando escrevia.

No final desse bate-papo específico, redigi algumas anotações. Guardei tudo. Reproduzo a seguir essas notas (com algumas observações entre colchetes). Eis que ouvi:

"Escrevo em um computador há quase 20 anos [estávamos em 2003!]. Em um Macintosh. Sempre. Tentei uma vez usar um PC, mas não me dei bem. Continuo com o Macintosh. Com tela bem grande", detalhou o escritor.

"Tudo o que eu escrevo é em computador. Arquivo todos os dias em disquete [quem não souber o que é um disquete, o Google está aí para ajudar]. Ao final do dia, salvo o arquivo com números --1, 2, 3, 4, 5 etc. Assim sempre sei qual versão do texto é. Imprimo no final do dia e corrijo à noite ou pela manhã, ainda na cama, antes de escovar os dentes ou de tomar café".

Ele disse que lê os jornais pela internet: "Começo pelos colombianos, os mexicanos e os principais dos Estados Unidos. Quando vejo que o mundo continua a existir, vou para o computador escrever. Não respiro das 9h às 3h da tarde, quando me chamam para almoçar. Não escrevo nem uso o computador depois disso. Não consulto quase ninguém sobre o que escrevo. Te meten cosas en la cabeza'."

Anotei essa frase em espanhol mesmo, porque me pareceu melhor à época e me fazia lembrar da entonação do escritor ao expressá-la.

"Mostro os textos apenas para alguns amigos leitores. Hoje, foi a primeira vez que vi como pode vir a ser a internet. O problema desse tipo de jornalismo é o mesmo de sempre: a veracidade dos fatos".

Perguntei se já tinha ouvido falar no Google, criado cinco anos antes, em 1998. "Não, não conheço. Não sei o que é".

Na conversa, García Márquez estava com um blazer xadrez, em tom amarelo. Tinha um curativo ostensivo no pescoço. Cabelos ralos, despenteados e grisalhos. Sua aparência era a de alguém que havia sido mais gordo no passado, com uma certa flacidez no rosto. Usava óculos e bigode.

Na noite em que foram entregues os prêmios, García Márquez foi com todos os jornalistas festejar. Atencioso. Houve um jantar e depois fomos todos a um local onde se dançou muito. Ele também.


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