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Crítica Poesia

Poeta Alcides Villaça emula Oswald de Andrade afirmando sua voz própria

EVANDO NASCIMENTO ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguns poemas da nova coletânea de Alcides Villaça, professor titular de literatura brasileira da Universidade de São Paulo, "Ondas Curtas", lembram o coloquialismo modernista do primeiríssimo Carlos Drummond de Andrade, o de "Alguma Poesia". Outros se aproximam também da coloquialidade inventiva de Manuel Bandeira.

Ambos os poetas são explicitamente mencionados: Bandeira num poema que lhe é dedicado ("Bach no Céu"); Drummond numa alusão explícita, desde o título, ao último livro que o itabirano deixou preparado antes de partir, o belo "Farewell".

Oswald de Andrade é outro modernista "histórico" citado, e até certo ponto emulado, no livro. Emulação é uma palavra que remete a um procedimento clássico de tomar outros artistas e escritores como modelos. Mas a emulação, desde suas origens greco-latinas, já implica um desafio e certa rivalidade entre cópia e modelo.

Na modernidade pós-romântica e na contemporaneidade, a emulação se tornou mais livre (pois não há mais um número delimitado de modelos, mas inúmeros) e mais desafiadora (pois a suposta cópia pode trair inteiramente seu modelo, quando simula imitá-lo).

Sem dúvida, "Ondas Curtas" vence o desafio de emular sem repetir o mesmo, afirmando sua voz própria.

Houve duas tendências principais em poesia no século 20, sob forma de diálogo com outras artes: numa vertente mais concretista, a aproximação foi, sabidamente, com as artes plásticas.

Em outra vertente, houve o apego à musicalidade, remontando às origens órficas da tradição poética ocidental. Poetas como Drummond e Bandeira transitaram com facilidade entre os dois universos, pois ambos conheciam amplamente a tradição e também tiveram um pequeno surto concretista.

Já Villaça opta claramente pela música, com referências eruditas a Mozart, Bach, Chopin e outros, bem como à canção brasileira de origem popular.

Embora aqui e ali o espaçamento gráfico das palavras, dos versos e das estrofes seja posto em relevo, seus poemas dispõem bem mais da delicadeza das pequenas composições musicais, raramente com pretensões sinfônicas.

Trata-se de registros fortuitos do dia a dia, mas sem cair no vezo já muito saturado de uma "poética do cotidiano".

Em Villaça, a força vem das pequenas memórias do passado e do presente; até de lembranças do futuro, quando não mais se estará aqui, sobrando quiçá apenas um rastro. Esse rastro, quando deixa marca, ganha o singelo nome de poesia: "Nascer, como morrer, é sozinho./ Falar também. Ninguém ficou/ para a frase extra".


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