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PUC veta locação a filme sobre anos 1980

'Califórnia', dirigido por Marina Person, é sobre adolescência no período das Diretas Já e do surgimento da Aids

E-mail diz que reitoria concordou, mas fundação religiosa negou em razão da sinopse; PUC nega

GABRIELA LONGMAN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando resolveu escrever o longa-metragem "Califórnia" sobre adolescentes nos anos 1980, a roteirista e diretora Marina Person pinçou nas próprias lembranças as questões que tumultuavam a juventude no período: as Diretas Já, o pós-Punk e o aparecimento da Aids.

Não esperava, porém, que alguns dos tabus comportamentais daquele momento pós-Ditadura ainda rondassem no ar e ficou surpresa quando uma das locações previstas para as filmagens, a PUC-SP, negou a utilização de seu espaço no último momento por um veto da entidade religiosa mantenedora, a Fundação São Paulo.

Uma negociação por e-mail entre a produtora Mira Filmes e o departamento de marketing da universidade estabelecia a duração das filmagens (cinco dias), os espaços que seriam utilizados (uma sala de aula, um banheiro, o pátio e a quadra) e o valor a ser pago pela locação (R$ 12 mil).

A PUC-SP recebeu uma apresentação de 14 páginas contendo um descritivo do filme, elenco, e currículos dos principais envolvidos e conduzia o processo normalmente. O espaço em questão seria o colégio onde estuda Estela (Clara Gallo), a protagonista.

"A reitora concordou, mas ainda precisamos do aval do padre, secretário-executivo da mantenedora", dizia o e-mail final do acerto de detalhes. A negativa viria poucos dias depois em e-mail assinado pelo pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Antonio C. Gobe.

"Internamente foram canalizados esforços no sentido de aprovar a liberação do espaço para sua locação e gravação", escreve Gobe em e-mail ao qual a Folha teve acesso. "O corpo da reitoria se empenhou diretamente junto a Fundação São Paulo ["¦] Apesar de todos os esforços e argumentações empregadas para a concretização desta parceria, a Secretaria Executiva da Fundação São Paulo (estância máxima da universidade) negou o pedido frente à abordagem declarada na sinopse do filme."

A sinopse apresentada dizia pouco: "O ano é 1984. Estela vive a conturbada passagem pela adolescência. O sexo, os amores, as amizades; tudo parece muito complicado. Seu tio Carlos [Caio Blat] é seu maior herói e a viagem à Califórnia para visitá-lo, seu grande sonho. Mas tudo desaba quando ele volta magro, fraco e doente. Entre crises e descobertas, Estela irá encarar uma realidade que mudará, definitivamente, sua forma de ver o mundo."

Embora não estivesse escrita literalmente, a referência à Aids se fazia clara na própria sinopse e em textos sobre o contexto histórico que acompanhavam o material. "Eu queria entender como esses jovens que são filhos da geração do amor livre, da pílula, da liberação da mulher iniciaram a vida sexual junto à descoberta da Aids. Foi um pouco a história da minha geração", diz a diretora.

O filme não tem nenhuma referência à Igreja ou à Universidade e nenhuma cena envolvendo sexo, violência ou uso de drogas seria rodada no ambiente escolar. Por meio de suas diferentes instâncias, PUC-SP e Fundação São Paulo dizem que a sinopse não influiu e que a recusa foi fruto de um mal-entendido interno.

Passado a decepção da equipe com a negativa, as cenas em questão foram rodadas num grande colégio de elite na zona oeste de São Paulo, que leu todo o roteiro, dialogou com a equipe cobrou apenas custos de manutenção. Atualmente em montagem, o filme tem sua estreia prevista para 2015.


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