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Tarantino encena roteiro inédito em 'noite única' em Los Angeles
Texto original do faroeste 'The Hateful Eight' vazou na internet
Em janeiro, Quentin Tarantino descobriu que o roteiro de seu próximo filme, "The Hateful Eight", tinha vazado na internet. O diretor, depois de se dizer "em depressão" com o fato, anunciou que não rodaria mais o projeto.
Mas no sábado, em Los Angeles, o cineasta reuniu vários dos seus "Tarantino Superstars" para uma leitura inédita do script para 2.000 pessoas no histórico teatro do Ace Hotel, e revelou que o projeto não está morto.
"O que faz esta noite ser única é que vamos ler o primeiro tratamento de The Hateful Eight', mas estou trabalhando no segundo e acho que farei um terceiro", revelou o diretor e roteirista, dando a entender que não desistiu do novo faroeste, mas que reescreverá o fim da trama.
Tarantino, com chapéu e camisa de caubói, apresentou seu elenco, todos parte dos seus longas anteriores: Samuel L. Jackson, Tim Roth, Kurt Russell, Michael Madsen, Amber Tamblyn, Walton Goggins, entre outros.
A surpresa foi Bruce Dern, cujo agente pode ter sido responsável pelo vazamento do roteiro, já que o ator foi um dos poucos a ler o trabalho.
É o texto mais minimalista de Tarantino desde "Cães de Aluguel" e partilha da narrativa quebrada de "Pulp Fiction".
PARANOIA E TIROS
Em "The Hateful Eight" (os oito detestáveis, em tradução livre), o major Marquis Warren (Jackson) trabalha como caçador de recompensas, seis anos após a Guerra Civil. Em uma missão, ele mata três criminosos, mas perde o cavalo.
Sem ter como transportar sua carga para a cidade de Red Rock, pede carona para John Ruth (Russell), um concorrente que transporta uma prisioneira, a falastrona Daisy Domergue (Amber).
No caminho, encontram um sujeito que diz ser o novo xerife (Goggins) de Red Rock e param em uma estalagem. Nela estão um carrasco inglês (Roth), um caubói de poucas palavras (Madsen) e um general em luto pelo filho (Dern).
A ação se passa em sua maioria na estalagem e é um estudo hitchcockiano sobre paranoia: os caçadores de recompensas acreditam que um dos estranhos planeja libertar a prisioneira. O clímax é um show de sangue, envenenamento, mortes e tiros.
Tarantino levou a experiência da leitura a sério, voltando cenas quando não ficava satisfeito. Em outros momentos, cochichava nos ouvidos de Roth e Jackson, mudando o diálogo discretamente.
Quando Michael Madsen não obedeceu às instruções de "fazer uma cara como se estivesse gozando nas calças" ao beber um drinque, o ator retrucou, saindo do personagem e rindo: "Eu nunca fiz isso antes, Quent". "Te mostro depois", rebateu Tarantino.
O público aplaudia e gargalhava ao longo das intervenções e dos erros. Instantes de despojamento que transformaram a leitura do roteiro em um momento histórico.