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Crítica música erudita

Pianista controla no som a relação entre afeto e ideias

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

O compositor Sergei Rachmaninov (1873-1943) foi o elo entre as duas apresentações do pianista russo Nikolai Lugansky na Sala São Paulo na semana passada. O bis na quinta, "Études-Tableaux op.33 nº8", conversou com o "Prelúdio op.32 nº13", tocado no fim do recital solo na terça.

No bis ele recuperou o som intimista de dois dias antes, diferente interpretação pujante que acabara de realizar como solista da Osesp no "Concerto nº 3" do mesmo Rachmaninov.

Quem passa os olhos na programação 2014 da Osesp pode sentir falta de programas impactantes. É, entretanto, na amarração das obras --tanto em cada programa como ao longo das semanas-- que está a sua força.

Essa experiência sonora cumulativa passa pelo mergulho em alguns repertórios, como foi com Stravinsky nas semanas protagonizadas pelo pianista Jean-Efflam Bavouzet e, agora, com "os Rachmaninov" de Lugansky.

Regida por Isaac Karabtchevsky --prestes a completar 80 anos, no auge da experiência e energia-- a orquestra tocou bem: violas estavam inspiradas, e o todo das cordas contornava e apoiava o som do piano com delicadeza e sintonia.

Karabtchevsky e Lugansky foram impecáveis nos climas, pesos e condução das frases. E se alguém quisesse pedir mais das trompas (e dos sopros em geral), esse algo veio na segunda parte, com uma versão madura da (ainda não madura) "Sinfonia nº 1" de Tchaikovsky (1840-93).

Madeiras, em especial, arrasaram: espetacular solo de oboé, e fusão inesquecível de timbre, articulação e coração no uníssono de flauta e oboé.

Mas, para entender a arte de Nikolai Lugansky, precisamos voltar ao recital solo de terça-feira. Antes de apresentar na sequência os transcendentais 13 prelúdios do "op.32" de Rachmaninov, duas obras mostraram a sua capacidade de controlar no som a relação entre afetos e ideias.

Não há, no século 19 --pelo menos até chegarmos ao jovem Schoenberg (1874-1951)-- muitas músicas capazes de fundir as formas rigorosas do contraponto bachiano com o cromatismo de Wagner (1813-83) e Liszt (1811-86). Por isso não há muitas obras como o "Prelúdio, Coral e Fuga" do belga César Franck (1822-90).

Lugansky passou por Franck com clareza polifônica, sem distorcer os fortes nem perder corpo nas passagens leves, e seguiu a evocar sarcasmos em "Sonata nº 4" de Prokofiev (1891-1953). Tomara que volte logo a São Paulo.

NIKOLAI LUGANSKY SOLO
AVALIAÇÃO ótimo

NIKOLAI LUGANSKY COM OSESP E ISAAC KARABTCHEVSKY
AVALIAÇÃO ótimo


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