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Crítica - Drama

'Getúlio' é um filme persuasivo, apesar de didático

OTAVIO FRIAS FILHO DIRETOR DE REDAÇÃO

Antigamente, o perigo que o espectador de um filme brasileiro corria era o de ser submetido à idiossincrasia verborrágica do diretor, cuja autenticidade pretendia desculpar as carências da produção e o amadorismo do roteiro.

Hoje o risco é oposto, pois o cinema se profissionalizou à custa de imitar o padrão televisivo --o didatismo rasteiro das novelas-- e de vampirizar a audiência de suas celebridades.

"Getúlio", de João Jardim, pertence a esse modelo, embora evite seus cacoetes. Logo que Tony Ramos aparece com uma pança imensa, remotamente parecido com o original, uma cascata de heróis de telenovela (junto com o garoto-propaganda do anúncio de carne) despenca entre o espectador e a tela.

Mas esse ator competente aos poucos os dispersa e impõe um Getúlio que, sem ser empolgante, é persuasivo. O filme compartilha essas qualidades. Os últimos dias do presidente são narrados em chave documental, com veracidade e ritmo.

É comum que filmes históricos brasileiros focalizem seu tema sob a distorção de uma caricatura histriônica. Neste, até mesmo o tradicional maniqueísmo que liga Getúlio Vargas ao "bem" e seus adversários ao "mal" fica matizado.

O ponto de vista adotado é o do protagonista e seu círculo íntimo. Grande, demasiada parte do filme acontece no próprio palácio do Catete, no Rio. A fotografia é solene sem deixar de ser elegante, mas se torna cansativa quando a câmera passeia pela enésima vez entre lustres e cristais.

O problema do didatismo, desafio em todo filme histórico, é resolvido apenas em parte no roteiro de George Moura. O ideal é que as informações estejam de tal forma entremeadas nos diálogos que sua presença soe natural, despercebida.

Não é o que ocorre quando, por exemplo, dois colegas de ministério se referem, numa conversa, a um terceiro pelo nome inteiro e pelo cargo, que ambos estão cansados de saber qual é.

Tancredo Neves (Michel Bercovitch) era firme, mas é difícil imaginá-lo ríspido. Benjamin Vargas (Fernando Luis), irmão do presidente, parece às vezes ter sotaque português. Não é verossímil que Getúlio tenha dormido nas horas que antecederam o amanhecer, quando se suicidou.

Mas o conjunto sobrevive bem a esses percalços, com a ajuda luminosa de Drica Moraes como a secretária diligente e a filha amorosa que Alzira Vargas foi, refrescando a cena cada vez que aparece entre tantos homens carrancudos.


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