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Crítica - Romance

Nova trama de Ricardo Piglia é literatura em sua melhor forma

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

Combinar experimentação linguística e narrativa, densidade reflexiva e o ansiado mistério do enredo nunca foi tarefa fácil. Atualmente, digamos que seja ainda mais difícil, já que os primeiros dois itens dessa lista têm sido sistematicamente ignorados.

Mas Ricardo Piglia tem conseguido, em seus últimos romances, contemplar todos eles, e "O Caminho de Ida" só confirma. É daqueles livros que chegam a dar raiva: "Como o autor consegue?".

Um professor de literatura argentino é convidado a lecionar numa universidade americana, durante os anos 1990, época de Bill Clinton e do terrorista Unabomber, em cuja biografia a trama é centrada.

O professor se apaixona por uma professora linda e misteriosa, a Ida do título, envolvida "numa guerra sem quartel contra as células derridianas" e "contra o comitê central do desconstrucionismo".

Especializado em literatura gaúcha, o argentino se espanta com "a terrível violência dos homens educados", entre eles um professor, "expert" em "Moby Dick", que esconde um tubarão no porão.

A narrativa, pelos olhos do professor, levanta hipóteses sobre a violência recalcada dos EUA, entre elas a dificuldade dessa cultura em mostrar e praticar solidariedade.

Além de tudo, também há uma velha vizinha russa, egressa do comunismo e apreciadora de Tolstói.

Mas tudo concorre para o trabalho de ficção extraordinário sobre a realidade da história e do manifesto do matemático Theodore Kaczynski, o Unabomber, que no livro é Thomas Munk.

A trama mostra bastidores que quase chegam a explicar os crimes cometidos, ao mesmo tempo que estabelece uma crítica dos costumes e valores do capitalismo e da sociedade americana, sem deixar de denunciar o horror.

"Porque ninguém é somente um assassino ou um louco, e sim muitas coisas mais, simultâneas ou sucessivas." Pelas nuances da personalidade do terrorista, vão se revelando outras sutilezas sobre os outros personagens.

Trocadilho inevitável, "O Caminho de Ida" é caminho sem volta para um mundo que é o real e é também como o real: a literatura em sua melhor forma.


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