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Crítica - Poesia

Ziraldo faz tradução visual de poemas de Paulo Leminski

RODRIGO GARCIA LOPES ESPECIAL PARA A FOLHA

Na esteira do sucesso de "Toda Poesia" (2013), de Paulo Leminski, a Companhia das Letrinhas, selo infantojuvenil, lança "O Bicho Alfabeto", uma seleção de poemas do escritor curitibano com ilustrações do mineiro Ziraldo.

Apesar de nem todos os 26 textos serem haicais, o resultado remete-nos à antiga prática dos "haigas" japoneses, em que poemas breves eram acompanhados de desenhos.

Dada a característica ideogramática da escrita japonesa, era comum que poema e desenho acabassem se fundindo visualmente.

Como o próprio Leminski havia apontado em "Ensaios e Anseios Crípticos", certamente mirando projetos poéticos nesse sentido, "no Japão, o haicai é parte de um conjunto plástico maior: vem como integrante de um desenho que mantém com o texto relações gráficas muito íntimas".

Os desenhos de Ziraldo, que também assina o projeto gráfico, estabelecem um diálogo fecundo e criativo com os poemas sempre muito diretos de Leminski, como "a palmeira estremece /palmas para ela/ que ela merece".

Diálogo que acontece até quando não há nenhuma ilustração, como a página em branco usada como solução gráfica para o poema "lá dentro / o que é que tem / que aqui fora / não tem ninguém?".

Em outros casos, como o poema que começa com "as coisas estão pretas", resolve ideias complexas em poucos traços, sempre com humor.

Casados com a poesia comunicativa e de "alta definição" de Leminski, os desenhos são muitas vezes traduções visuais ao pé da letra, por assim, dizer, dos poemas.

Num deles, a palavra "AI" aparece suspensa em uma gaiola fechada. O poema: "morreu o periquito / a gaiola vazia / esconde um grito".

Se o leitor não soubesse que Leminski está morto seria difícil adivinhar quem veio primeiro, o desenho ou o poema.

O "Bicho Alfabeto" remete-nos a "Winterverno", em que manuscritos de Leminski dialogavam com desenhos do arquiteto João Virmond Suplicy.

Com Ziraldo, mesmo na ausência física do poeta, a parceria também funciona. São autores com estilos marcantes, peritos em dizer muito com pouco. Para o leitor mirim, é porta de entrada não só para o mundo da poesia mas para a obra de Leminski.


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