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Machado pra burro

Escritor vira alvo de debate em redes depois da divulgação de projeto para simplificar 'O Alienista'

DE SÃO PAULO

Machado de Assis virou assunto nas redes sociais.

O autor de "Dom Casmurro" esteve no centro de intensos debates depois que a coluna "Cidadona", da Folha, revelou que a escritora Patrícia Secco lançará, em junho, uma versão simplificada de "O Alienista", obra de Machado lançada em 1882.

Secco coordena um projeto que visa "descomplicar" os clássicos para o leitor não acostumado a lê-los.

Autorizada pelo Ministério da Cultura, ela captou cerca de R$ 1 milhão, via leis de incentivo, para a empreitada --além do conto de Machado, também adaptou"A Pata da Gazela", de José de Alencar. Os dois terão juntos tiragens de 600 mil exemplares e serão distribuídos de graça pelo Instituto Brasil Leitor.

No caso de "O Alienista", a equipe de Secco suprimiu algumas vírgulas, deixou as frases mais diretas e trocou palavras (por exemplo, "filhos da nobreza" virou "filhos de nobres"; "reproche" virou "censura").

A notícia alvoroçou (ou seria melhor dizer "agitou"?) as redes sociais. Uma petição on-line com mais de 6.500 assinaturas contesta o endosso do Ministério da Cultura.

"O foco do projeto é a doação de livros para pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, constantemente excluídos do acesso à cultura", diz Secco. "Trata-se de uma disputa entre o purismo e a democratização da leitura."

Adaptações de textos clássicos existem aos montes, mas a proposta de Secco dividiu escritores e acadêmicos.

"Eu sou contrária", diz Noemi Jaffe, escritora e doutora em literatura brasileira. "Quando você adapta uma obra para adequá-la a um novo gênero, como uma HQ, tudo bem. Mas, no caso de O Alienista', o formato é o mesmo, mas a linguagem foi sequestrada. A literatura não é só conteúdo, é principalmente linguagem."

A escritora Ruth Rocha, embora já tenha adaptado para o público infantil obras do porte de "Odisseia" e "Ilíada", considera Machado intocável.

"Em Odisseia' há muita aventura, as crianças gostam. Machado é muito profundo, não vejo como simplificar."

Professor de literatura da UFRGS, Luís Augusto Fischer é "cem por cento" a favor das adaptações. Ele mesmo já adaptou "O Alienista" para uma série da editora L&PM voltada a jovem leitores.

"Essa grita me parece hipócrita, embora haja gente bem-intencionada. O lado hipócrita é de gente que talvez nem tenha lido muita coisa, mas que faz a pose de guardiã de uma suposta excelência."


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