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Sorry, periferia

Suspense 'O Lobo Atrás da Porta' lidera onda de filmes brasileiros premiados em festivais que passam longe das temáticas sociais e do estereótipo do cinema de favela

GUILHERME GENESTRETI DE SÃO PAULO

A prateleira dos filmes de suspense era a que esvaziava primeiro quando o hoje cineasta Fernando Coimbra, 38, trabalhava numa videolocadora paulistana.

Foi dirigindo o suspense "O Lobo Atrás da Porta" que ele levou prêmios em três festivais importantes: o de San Sebastián, o de Miami e o de Havana, ilustrando nova tendência: o reconhecimento internacional de filmes brasileiros que fogem do chamado "favela movie".

"O Lobo...", que estreia no dia 29, gira em torno do sequestro de uma menina. É passado no subúrbio do Rio. Não no subúrbio dos morros, e sim num subúrbio mais à lá "tragédias de Nelson Rodrigues", segundo o cineasta.

"Curadores internacionais sempre esperam que o filme brasileiro trate de violência social, de pobreza, mas o país está mudando. Há uma nova geração que não teme flertar com influências americanas", afirma Coimbra.

"A gente quer falar de coisas mais universais ou até do social, mas de forma diferente, como o Kleber Mendonça Filho com O Som ao Redor'."

Na última edição do Festival de Berlim, em fevereiro, já era evidente a mudança de rumo.

O evento que já mostrou aos alemães os morros cariocas ("Tropa de Elite", em 2008) e a periferia paulistana ("Bróder", em 2010) selecionou neste ano quatro filmes fora do clichê: "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz, "O Homem das Multidões", de Cao Guimarães e Marcelo Gomes, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, e "Castanha", de Davi Pretto.

"É ingênuo achar que lá fora só querem ver favela", diz Cao Guimarães, codiretor de "O Homem das Multidões", que estreia aqui em julho. "O filme é sobre solidão em Belo Horizonte, mas podia ser em Bancoc."

Jeferson De, de "Bróder", deixou para trás o Capão Redondo para rodar na mata catarinense "O Amuleto", suspense teen que sai em outubro. "Falar sobre periferias algum tempo atrás era urgente. Hoje ainda aguardam da gente essa coisa social, mas queremos falar para um público novo", diz o cineasta.

LOBOS E LOBISOMENS

A nova safra brasileira foi destaque deste mês na revista especializada "Variety", que abordou a produção cada vez maior de suspense e terror no país.

Marco Dutra, que em janeiro lançou o terror "Quando Eu Era Vivo", com a cantora Sandy, é um dos citados na publicação.

Ele e o também diretor Caetano Gotardo levaram o projeto de filme de época "Todos os Mortos" à atual edição de Cannes, onde participam de residência artística para jovens cineastas.

"Muitas vezes os curadores querem uma cor local, mas já começam a perceber variedade no nosso cinema", diz Dutra, que tem na manga um filme de lobisomem, "As Boas Maneiras", codirigido por Juliana Rojas.

"Em geral, os programadores de festival não querem assumir riscos. Querem o choque e ficam só no estereótipo", diz Diana Vargas, diretora artística do Havana Film Festival New York, que exibe produções latinas na cidade americana. No mês passado, a mostra apresentou "O Lobo...". "Muitos me perguntaram se era mesmo brasileiro por ser mais sombrio, não mostrar nem favela nem o turístico."

Protagonista de "O Lobo...", o ator Milhem Cortaz já subiu o morro em "Tropa de Elite" e "Alemão". Agora quer mudar de cenário. "Ficou cansativo."


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