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Livro explica as origens de célebre desenho de Da Vinci

Jornalista mostra como ideias medievais moldaram o 'Homem Vitruviano'

Artista baseou-se em tratado que falava de uma arquitetura alinhada com dimensões do corpo humano

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um homem nu, com braços e pernas esticados dentro dos limites de um círculo e de um quadrado, era a representação máxima das dimensões dos mundos terreno e divino.

Esse desenho de Leonardo Da Vinci, esboçado em 1490, depois acabou entrando para a história como um símbolo da sabedoria humana.

Em releituras mais populares, está também na moeda italiana de um euro e virou logotipo de um sem-fim de instituições acadêmicas. Um livro agora revê toda a --conturbada-- história da figura.

Em "O Fantasma de Da Vinci", lançado pelo Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha, o jornalista norte-americano Toby Lester explica as origens de um dos desenhos mais célebres do pintor da "Mona Lisa" e ajuda a entender como ideias medievais e renascentistas moldaram o homenzinho pelado.

Nas palavras de Lester, Da Vinci, que viveu na virada do século 15 para o 16, ainda era um jovem "forte, ágil e musculoso", longe da cara de profeta barbado com que entrou para a história, quando desenhou o "Homem Vitruviano".

Vitrúvio era um engenheiro do Império Romano que viveu no século 1º a.C. e escreveu um dos primeiros tratados sobre a construção de espaços arquitetônicos. No documento, ele dizia que "as proporções dos templos sagrados deveriam estar em conformidade com as proporções do corpo humano".

Essas dimensões, no caso, eram sinalizadas por figuras geométricas --o círculo representando o mundo cósmico e o divino, e o quadrado, tudo de secular e terreno.

Mas Vitrúvio nunca desenhou círculos ou quadrados, muito menos um homem.

Da Vinci fez seu desenho 1.500 anos depois com base nas cópias do tratado de Vitrúvio feitas por monges medievais, mais interessados nas aplicações teológicas dos conceitos do engenheiro do que em ideias de arquitetura.

"Nada restou dos originais de Vitrúvio, mas é claro que Da Vinci pensava numa ilustração para seus conceitos", diz Lester. "Ele falava de uma arquitetura em alinhamento perfeito com as dimensões do corpo humano e do mundo."

Mais do que isso, um Da Vinci obcecado em fazer a "medição universal do corpo humano e da alma" fez nesse desenho um autorretrato, colocando as próprias feições como chave para o entendimento máximo da natureza.

"Ele tentava se fundir com as ideias arquitetônicas, médicas e históricas que estavam em voga", diz Lester.

Embora o traço seja inconfundível e o rosto do homem de fato se pareça com o do artista, Lester lembra que o desenho de um homem com braços e pernas esticados não surgiu no ateliê de Da Vinci.

"Muitos tendem a achar que ele inventou do nada esse desenho", diz o autor. "Mas isso vem de coisas que estavam sendo ditas havia centenas de anos. Nos mapas medievais bem antes dele, é chocante a presença dessas figuras com braços e pernas esticados dessa maneira."

Nesses mapas, aliás, essa espécie de embrião do homem vitruviano costumava ser representado como Jesus Cristo.

Mas a forma como o homem vitruviano acabou entronizado na cultura popular nada tem a ver com o divino. Segundo Lester, a publicação de um livro de nus artísticos nos anos 1950 ressuscitou a figura de Da Vinci, que voltou para a moda mais de 2.000 anos depois de Vitrúvio.


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