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Crítica - Contos

'O Rei de Amarelo' projeta sombras sobre personagens instáveis

BRAULIO TAVARES ESPECIAL PARA A FOLHA

O século 19 formatou os modelos clássicos da literatura fantástica na Europa e nos EUA, com a ressalva de que naquele tempo o fantástico, embora já fosse tido como um gênero literário, ainda não se tornara uma categoria editorial à parte.

As coletâneas de contos de autores como Balzac ou H. G. Wells, Conan Doyle ou Guy de Maupassant, misturavam contos fantásticos e histórias realistas. A personalidade autoral era mais forte do que o apelo do gênero.

O americano Robert W. Chambers (1865-1933) ficou rico e famoso em vida escrevendo romances de amor, dos quais ninguém se recorda. Sua sobrevivência se deu através de contos fantásticos a que ele próprio não parecia atribuir grande valor. "O Rei de Amarelo", que ganhou notoriedade recente ao ser citado na série "True Detective", conta histórias interligadas em que a peça teatral com esse nome provoca a loucura e a desgraça em quem a lê até o fim.

O livro imaginário pode ser maldito como o "Necronomicon", de Lovecraft, ou metafísico como o "Livro de Areia", de Borges. Nos contos de Chambers, o Rei de Amarelo projeta uma luz doentia sobre personagens mentalmente instáveis, ou apenas excêntricos.

É uma invasão repentina do mórbido num mundo que parecia perfeito, ou, na soturna distopia de "O Reparador de Reputações", totalmente sob controle.

A tradução de Edmundo Barreiros faz jus à precisão visual do estilo de Chambers, mais rica do que sua paleta emotiva. Carlos Orsi fornece úteis informações sobre os textos e o universo descrito.

Os melhores contos, para mim, são "No Pátio do Dragão" e "O Emblema Amarelo", "A Demoiselle d'Ys" (uma delicada história de viagem no tempo), "A Rua da Primeira Bomba" (ótima reconstituição de Paris sob o bombardeio prussiano, em 1870-71), e "A Rua de Nossa Senhora dos Campos", variante do tema do estudante simplório convivendo com artistas mais cínicos e mais mundanos.


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