Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Baderna organizada

Em SP, coletivo norte-americano de artistas faz palestra com táticas inusitadas de ativismo para a Copa e deixa manifestantes de boca aberta

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um grupo de cerca de cem ativistas, entre eles barbudos, mocinhas universitárias, skatistas e até rapazes com cara de advogado assistiam sem piscar à palestra do moço magrinho que tentava ensinar como mudar o mundo. Ou pelo menos chamar a atenção.

Sean Dagohoy, artista do coletivo americano Yes Men, acabava de mostrar como seu grupo fez para simular a página de uma gigante do petróleo e ridicularizar a empresa em anúncios falsos.

"Depois eu conto como fazer esses sites falsos", dizia a uma plateia boquiaberta no espaço Matilha Cultural.

No centro cultural em São Paulo, Dagohoy deu uma "oficina de ativismo" há duas semanas, com a ideia de preparar manifestantes para agir durante a Copa, aproveitando o circo midiático em torno do megaevento no país.

Os membros do Yes Men, aliás, sabem muito bem como chamar a atenção e dominar as manchetes.

Há dez anos, num dos seus atos mais famosos, Andy Bichlbaum, um dos fundadores do grupo, deu entrevista à rede britânica BBC fingindo ser porta-voz da empresa Dow Chemical.

Ele prometia, em entrevista transmitida ao vivo, indenizar as famílias das mais de 3.000 vítimas de um vazamento de gás na Índia --ocorrido em 1984, o desastre é considerado o mais grave acidente industrial da história.

Em minutos, o valor de mercado do grupo americano caiu R$ 4,4 bilhões.

Da mesma forma, um dos Yes Men deu uma palestra em que se passava por um executivo da Organização Mundial do Comércio e sugeria retomar a escravidão na África.

Também fizeram circular uma edição falsa do jornal "The New York Times" anunciando o fim da guerra no Iraque, entre outros atos de ficção travestidos de realidade.

CRACK E CRAQUES

Durante as três horas do encontro, batizado de Yes Lab, Dagohoy pediu para que o público se dividisse em grupos e circulasse pelo espaço formando rodinhas para pensar em ações de protesto contra o Mundial de futebol.

Dessas conversas, que não podiam passar de dez minutos, surgiram ideias curiosas.

Um grupo sugeriu alagar o Itaquerão no dia de abertura da Copa. Outro queria sabotar telões do estádio para "mostrar imagens que desqualifiquem" o torneio, sem contar os que queriam vender papelotes de crack de mentira embrulhados com figurinhas dos craques do campeonato.

Em tom professoral, Dagohoy lembrava aos participantes que as consequências de atos como esses variam de país para país e que não podia se responsabilizar pela "eventual brutalidade daqueles que estão no poder".

Em encontros assim, o grupo treinou ativistas que participaram do movimento Occupy Wall Street, em Nova York, e também estiveram em Istambul no calor dos protestos turcos do ano passado.

"Uma das lições que damos é que quando há uma escalada de violência, a melhor solução é responder com uma escalada de humor", disse Dagohoy à Folha.

Alguns dos exemplos foram pinçados do livro "Bela Baderna", uma espécie de manual para ativistas, ou "caixa de ferramentas para a revolução", como diz a obra.

O coletivo brasileiro Escola de Ativismo traduziu o livro, que tem alguns capítulos escritos pelos Yes Men, e organizou a palestra em SP.

Segundo Gabriela Juns, membro do grupo, o coletivo não financiou a vinda do artista, mas soube da viagem ao país e marcou o encontro --a "Escola" é financiada por entidades como o Greenpeace.

Dagohoy disse que vários coletivos bancaram a viagem a São Paulo, onde ficou hospedado num albergue.

Nina Liesenberg, uma das diretoras da Matilha, afirma que apenas cedeu o espaço. "Queremos contribuir para que pessoas sejam agentes de mudança", conta ela.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página