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Crítica ópera

Falta refinamento e leveza na versão de 'Ifigênia em Táuris'

Orquestra do Theatro São Pedro deixa a desejar em técnicas exigidas na montagem de obras do classicismo

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Um instigante esquema proposto pelo musicólogo Carl Dahlhaus (1928-89) mostra que a história da ópera está marcada pela dialética entre tradição e reforma.

Filha do humanismo renascentista, ela nasce voltada para a tragédia grega e, na medida em que ajuda a inventar a música moderna, justifica suas escolhas pelo retorno ao passado remoto. Por isso, ainda, ela passa por crises, que geram reformas para recolocá-la nos trilhos.

Uma dessas reformas foi empreendida por Christoph Gluck (1714-87), autor de "Ifigênia em Táuris", agora em cartaz no Theatro São Pedro.

Baseada em drama de Eurípides (480 a.C.- 406 a.C.), a trama de "Ifigênia em Táuris" começa após o fim da Guerra de Troia, e a princesa de Micenas é agora uma sacerdotisa do templo de Diana.

Uma qualidade da direção cênica de Gustavo Tambascio é a forma sintética como consegue, já na abertura, trazer o contexto que precede a trama, ao que concorreu a boa atuação de Norma Gabriel como o fantasma de Clitemnestra.

Por outro lado, nem sempre funcionou a ação simultânea que trazia a história a tempos atuais (à frente, com os cantores), deixando ao fundo comentários visuais de outros tempos e lugares: isso prendeu a movimentação dos solistas que, ainda assim, encobriam a cena secundária.

Ao explicitar o que está implícito no texto, a ênfase na relação homoafetiva entre Orestes e Pílades fica descolada da música sutil de Gluck, e --aliada a figurinos casuais-- soma para deixar apagado o dueto do terceiro ato.

Mónica Ferracani convence como Ifigênia, apesar da dicção nem sempre clara; Lício Bruno fez ótimas aparições como o rei Thoas, e Luciano Garay está adequado como Orestes; a voz de Flávio Leite (como Pílades), entretanto, não timbra bem com a dos outros protagonistas.

Dirigida com energia por Alessandro Sangiorgi, a Orquestra do Theatro São Pedro não teve o bom desempenho de outras ocasiões. Não é raro que orquestras experientes derrapem em obras do classicismo, que exigem leveza, transparência e refinamento: faltou um pouco disso tudo, mas uma orquestra jovem só pode evoluir com a prática constante dos estilos.

Apesar das instabilidades, porém, merece ser assistida.


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