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Crítica - Biografia
Atriz Diane Keaton ri de si mesma em memórias
Com humor, intérprete de 68 anos discute beleza e envelhecimento
Uma vez noiva nervosa, para sempre nervosa noiva. Ao longo de sua carreira (e vida fora da tela), Diane Keaton parece nunca ter abandonado o estilo charmosamente desajeitado que caracterizava Annie Hall, personagem de Woody Allen que lhe deu o Oscar de melhor atriz em 1978.
Continuou vestindo blusas de gola olímpica, coletes, gravatas e sapatos de bico. Principalmente, continuou não se levando muito a sério e não tendo medo de rir de si mesma. E fazendo das piadas uma reflexão sobre o mundo, sobre os costumes de nosso tempo.
Assim é seu mais recente livro, "Let's Just Say It Wasn't Pretty", de memórias e pontificações sobre a vida, a beleza e o envelhecimento. Lançado nos EUA no final do mês passado, chegou à lista de mais vendidos do "New York Times", apesar de não trazer fofocas suculentas.
A confissão mais "quente", digamos, é sobre o momento em que viu o seu "primeiro pênis", ainda adolescente, numa praia.
Não houve nada de erótico, ela apenas entrou sem avisar na barraca onde um amigo do pai estava trocando de roupa. Mas o momento marcou a menina de então: "Foi tão rápido que não deu para ver detalhes. Mesmo assim, tenho de dizer que o poder de seu pênis me deixou com uma pontinha de inveja".
Agora, aos 68 anos, tem outras coisas com que se preocupar. "Meu corpo está despencando", constatou ela, ao "cometer o erro" de se olhar no espelho depois de um banho. Para Diane, o jeito é enfrentar filosoficamente, aprender a conviver com as rugas e a bunda caída.
O tema perpassa todo o livro. Por sinal, o título vem de um momento em que as operações de embelezamento eram tema de conversa familiar. Ao ver uma foto de Dean Martin, antes da plástica no nariz, a mãe de Diane fez o comentário: "Vamos dizer apenas que não era bonito".
Quanto a ela mesma, afirma: "É preciso força para assumir suas imperfeições. As pessoas me perguntam por que nunca fiz plástica. A verdade é que eu respeito tanto as mulheres que fizeram quanto as que não fizeram".
Suas "imperfeições" são o motor do livro. Fala mal dos cabelos, das orelhas, dos pés, do estilo que pinta os olhos, mas sempre dá a volta por cima, mostrando como convive com cada suposto defeito e faz o melhor com o que tem.
Conta momentos de seus relacionamentos (amorosos e/ou profissionais) com Woody Allen, Warren Beatty, Jack Nicholson e Al Pacino ("Tentei de tudo para fazer dele um marido; falhei. O que aprendi? Nunca se apaixone pelo Poderoso Chefão").
Compartilha suas paixões --vícios talvez seja a melhor palavra, que ela mesma usa. Por exemplo: comprar casas, reformá-las e vendê-las --nem sempre com lucro.
Sua vida doméstica também toma grande parte do livro. Sempre com um tom de humor autodepreciativo: "Não acredito que fui descalça buscar meu filho na escola". Mas também de orgulho, como quando fala das habilidades esportivas da filha.
De vez em quando, sai-se com uma tirada filosófica sobre a velhice: "Para nós, que fomos separados da vida real pela fama, envelhecer é uma experiência niveladora".
Assim, com um sorriso, uma lágrima, uma gargalhada ou um nariz franzido, conquista o leitor como seduziu os que a acompanham na telona ou na telinha ao longo desses mais de 40 anos em que se expõe ao público porque queria "ser amada por grandes grupos de gente".