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Crítica Documentário

Longa assume papel pioneiro ao fazer balanço de manifestações

AMIR LABAKI DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Numa das últimas falas de "Junho", o cientista político Marcos Nobre caracteriza o momento como "hora de balanço" frente à jornada de manifestações que marcaram o país há exatamente um ano.

Neste sentido, o documentário de João Wainer cumpre com pioneirismo este papel na esfera audiovisual, complementando e aprofundando a primeira tentativa, "20 Centavos", de Tiago Tambelli.

Se têm em comum a estruturação cronológica e a abordagem simpática ao movimento, ambos evitando felizmente qualquer tentativa de pretensa "neutralidade", "Junho" distingue-se pela maior riqueza do material gravado (ainda que com escassas imagens com frescor para quem acompanhou a cobertura à época) e sobretudo pelo recurso a depoimentos de protagonistas e analistas de diversos matizes ideológicos.

Centrada nos fatos em São Paulo, faltou à produção ouvir representantes das autoridades do governo do Estado e da prefeitura, ainda que aqui e ali estes marquem presença em registros da hora, sobretudo de policiais.

O competente roteiro estabelecido por Wainer e pelo montador Cesar Gananian mescla registros a quente com uma narrativa baseada principalmente nos depoimentos de Bruno Torturra, então parte da Mídia Ninja, da militante e socióloga Elena Judensnaider, da jornalista da Folha Giuliana Vallone (vítima de um tiro de bala de borracha no olho desferido pela polícia) e de Nina Cappello, do Movimento Passe Livre.

Bem composta a narrativa do que aconteceu, enriquece-a o debate polifônico das interpretações. A leitura do sociólogo Sergio Adorno frisando o fosso entre cidadãos e instituições é expandida pelo filósofo Vladimir Safatle ao ensaiar uma contextualização internacional sob a bandeira de "mais democracia".

A respeito dos manifestantes, o historiador Boris Fausto destaca o poder articulador das novas mídias. Quanto à resposta do Estado, o jornalista Gilberto Dimenstein frisa como "no Brasil, o poder público é despreparado"; logo, nenhuma surpresa que assim também sejam os instrumentos de segurança e repressão.

E nada mais saudável, às vésperas da Copa, do que ver Juca Kfouri metralhar a balela de que "futebol e política não se misturam".

Tudo somado, "Junho" ajuda a tomar o pulso de um país em geral tímido em narrativas escritas ou filmadas sobre a história do presente.


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