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Nova geração de narradores deixa bordão no banco

Desafio do profissional mais jovem é mesclar emoção e conhecimento sem se tornar um refém de frases feitas

Locução esportiva sem o uso de expressões de efeito pode ser sintoma de 'carência estética', na opinião de escritor

DE SÃO PAULO

A maioria dos narradores esportivos de televisão ouvidos pela Folha atesta que o bordão em transmissões esportivas não está morto. Quem está do outro lado da tela, no entanto, sabe que, se está vivo, está no banco.

Silvio Luiz, da Rede TV, ainda pede "pelamô dos meus filhinhos!"; Milton Leite, do canal SporTV, anuncia "que beleeeezaaa!" a cada canelada.

Mas há uma turma crescente de jovens narradores que prefere se ater a dados sobre quantas vezes uma determinada seleção já enfrentou outra, quando e com quais resultados.

"Não é uma tendência estética, é mais uma carência estética'. Os caras que conseguem inventar pouco fazem uma coisa mais limpa", diz o escritor José Roberto Torero, autor do livro de crônicas "Futebologia" (Objetiva).

Na visão dele, um jogo ruim pede uma narração mais divertida. Aí, o atrativo principal passa a ser a locução. No jogo bom, ela atrapalha.

No time que defende a velha escola, o comentarista global e ex-árbitro Arnaldo Cezar Coelho, 71, diz que bordão bom surge sem programação, "que nem resfriado".

Tiago Leifert, 34, apresentador da Globo que não descarta atacar de narrador, acha que esse profissional não pode cair na mesmice ou perder a paixão e a empolgação.

O comentarista da emissora ESPN Mauro Cezar Pereira, 50 concorda com ele e diz: "Narrador que é bom de bordão passa a ser um cara muito mais marcante."

Entre os opositores, Paulo Andrade, 35, locutor da ESPN, diz que um narrador não pode ser refém das frases feitas. "O grande desafio é mesclar emoção com conhecimento. Busco um meio-termo."

Seu colega de emissora Everaldo Marques, 35, segue a mesma linha. "Não tenho criatividade. Sigo a bola muito em cima e tento descrever do jeito mais fiel possível."

Morto em abril, aos 66, Luciano do Valle, que dividiu o pódio de locutor mais popular do Brasil com Galvão Bueno, era contrário ao bordão. Em 2013, afirmou à ESPN que "o importante é que o jogador chame a atenção."

Há ainda o grupo que diz que é o jogo que dita o tipo de narração a ser utilizada. "Entre clubes, onde o torcedor é apaixonado, não cabem brincadeiras" diz Nivaldo Prieto, da Band. Já na Copa, segundo ele, se forem duas seleções desconhecidas, vale uma locução mais descontraída.

Para Luiz Carlos Júnior, 47, do SporTV, na Copa vale até torcer de leve para o Brasil. "Tem que ter um distanciamento, mas é impossível ignorar que você é brasileiro e está narrando um jogo da seleção para o Brasil todo."

Tostão, campeão mundial em 1970 e colunista da Folha, faz ressalvas. "O que mais tem num jogo da seleção é torcida. O narrador se sente obrigado a ser ufanista. Não precisa."


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