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Crítica - Dramaturgia

Afastada da política, obra dos anos 1990 inova na forma e acaba em piada amarga

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

O Sorókin que vem ao Brasil tem pouco a ver com o dramaturgo de "Dostoiévski-Trip". Ele veste hoje, em eventos ocidentais, o figurino do romancista russo dissidente --e até emula os grandes do gênero, a começar de Ievguêni Zamiátin, que criou as narrativas distópicas abraçadas, com êxito menor, por Sorókin.

O autor da peça dos anos 1990 não estava interessado em política, o que tornava sua dramaturgia mais inovadora formalmente. Então presidente russo, Boris Iéltsin não era alvo. O foco de Sorókin, para crítica e para louvor, eram clássicos russos, no caso, o Dostoiévski de "O Idiota".

A peça abre com homens e mulheres anônimos, à espera de drogas com apelidos de escritores como Genet ou Górki. O traficante traz a droga Dostoiévski, eles tomam, e começa a viagem. Sorókin reescreve, com os mesmos personagens, mas aprofundados até o grotesco, a cena do aniversário no romance original.

No fim, homens e mulheres ainda são anônimos, mas têm histórias próprias para narrar. (Da nova dramaturgia inglesa a Tarantino, voltar a contar histórias foi uma obsessão dos anos 1990.) A peça acaba numa piada amarga: todos morrem, porque a droga só pode ser consumida "se diluir com Stephen King".

A tradutora Arlete Cavaliere, em ensaio no livro "Teatro Russo: Literatura e Espetáculo" (Ateliê, 2011), escreve que Sorókin, como os colegas de geração na Rússia, busca "menos uma destruição derrisória" dos clássicos e mais "um reencontro afirmativo com os grandes temas e escritores do passado".

É também um texto teatral de quem conhece o ofício.

Uma montagem enriqueceria muito o movimento recente, no Brasil, de descoberta do teatro russo pós-soviético --que já contou com ótimas encenações de peças de Aleksandr Gálin ("Casting", em 2010) e Ivan Viripaev ("Oxigênio", em 2011).


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